Diversos fatores influenciam para a ocorrência de falhas no fornecimento de energia em um país: qualidade da infraestrutura de distribuição, manutenção, localização geográfica, carga e demanda, planejamento de contingências, interferência da vegetação, entre outros. Para medir a eficiência – ou ineficiência – do sistema, dois indicadores são utilizados como padrão mundial: o DEC e o FEC. O primeiro mede a duração das interrupções e, o segundo, a frequência.
O DEC (Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora) é um dos principais parâmetros para avaliar a qualidade de um sistema de distribuição de energia elétrica. Ele mede o tempo que, em média, no período observado, cada unidade consumidora fica sem energia elétrica.
Segundo dados da ANEEL, em 2022, o DEC nacional foi de 10 horas e 56 minutos, ou seja, esse é o tempo médio que cada consumidor brasileiro ficou sem energia durante o ano. Em decorrência dessas falhas de fornecimento, além da frequência das mesmas, as distribuidoras tiveram que devolver aos consumidores a quantia de R$ 783 milhões de reais a título de penalização.
Mas, afinal, 10 horas é muito ou pouco para o DEC de um país? Quando comparamos o desempenho do Brasil com países como Japão, França e Inglaterra, percebemos que ainda há um grande espaço para melhorias. Em Tóquio, por exemplo, o tempo médio anual de falha de energia por residência é de apenas três minutos, de acordo com a Tepco (Tokyo Electric Power Company Holdings), enquanto o DEC no Japão inteiro é de 16 minutos.
No Brasil, as interrupções são consideradas somente quando o tempo é igual ou superior a três minutos. É importante notar, entretanto, que o país já apresenta sinais de progresso. O DEC de 2022 representa uma redução de 7,2% em relação a 2021. Além disso, houve uma melhoria de 10,4% na frequência das interrupções, com o FEC passando de 5,99 para 5,37 ocorrências por consumidor.
As multas recentemente aplicadas pela ANEEL à Enel São Paulo (R$ 165,8 milhões) e à Light (R$ 28,3 milhões) demonstram que o órgão regulador está intensificando suas ações para garantir a qualidade do serviço. A penalidade à Enel SP foi resultado de falhas no restabelecimento da energia após um forte temporal em novembro de 2023, enquanto a Light foi multada por demora excessiva no restabelecimento do serviço entre outubro de 2022 e setembro de 2023.
Essas ações punitivas, embora necessárias, não solucionam os problemas estruturais do setor. É crucial que as empresas do setor invistam em tecnologias e estratégias que possam prevenir interrupções e melhorar a resiliência da rede elétrica.
Um dos principais desafios a serem enfrentados é a interferência da vegetação nas redes de distribuição, que se estima ser responsável por 30% a 40% do DEC. Investimentos em tecnologias de monitoramento e gestão da vegetação podem contribuir significativamente para a redução das interrupções e, consequentemente, das penalidades.
A ANEEL tem demonstrado preocupação com essa questão, incluindo na Agenda Regulatória o tema da resiliência de redes frente a eventos climáticos de elevada severidade. A agência também promoveu um workshop em fevereiro de 2024 para debater os eventos climáticos extremos com a sociedade e agentes do setor, buscando discutir os principais desafios e as melhores práticas para resposta aos efeitos climáticos extremos.
O setor elétrico brasileiro está em um momento crucial de transformação diante das mudanças climáticas. A busca por soluções inovadoras e investimentos em infraestrutura resiliente são essenciais para melhorar a qualidade do serviço, reduzir as interrupções no fornecimento de energia e, consequentemente, diminuir as penalidades aplicadas às empresas. Somente com um esforço conjunto entre os agentes do setor, órgãos reguladores e a sociedade será possível alcançar um sistema elétrico mais confiável e eficiente, fundamental para o desenvolvimento sustentável do país.
Sobre autor:
Daniel Ramos, CEO da unidade de negócio Concert Lab