Os desafios para a expansão da transmissão

O Brasil possui uma malha de transmissão extensa e altamente complexa, dadas as características do nosso sistema de fornecimento de energia elétrica e as dimensões territoriais continentais. É papel da transmissão fazer a ligação entre os pontos de geração e de consumo, o que, no caso do Brasil, significa percorrer grandes distâncias, em sua maioria, aéreas e sujeitas às condições climáticas.
Uma das características mais marcantes do nosso sistema de abastecimento de eletricidade é a geração centralizada de usinas hidrelétricas – 65% da nossa matriz energética – estar localizada principalmente na região Norte do país, como Belo Monte, Tucuruí e Jirau, ao passo que o consumo se concentra especialmente no Sudeste. Em períodos de seca, notadamente no inverno, entre os meses de junho a setembro, os reservatórios das usinas costumam apresentar níveis baixos de armazenamento, o que força o Operador Nacional do Setor Elétrico (ONS) a acionar mais usinas térmicas, normalmente movidas a óleo diesel e gás natural, e que fornecem uma energia mais dispendiosa, onerando o bolso do consumidor.

 

A região Norte do país, ao contrário, do subsistema Sudeste/Centro-Oeste, possui um inverno úmido e, com as fortes chuvas dos últimos meses, as hidrelétricas estão operando com 84% de sua capacidade de armazenamento de energia, quase o triplo das usinas do Sudeste. Essa energia gerada no Norte poderia chegar às outras regiões do país por meio do sistema de transmissão, mas esbarra em algumas dificuldades técnicas e regulatórias. Segundo o ONS, uma delas diz respeito aos atrasos na conclusão do sistema de transmissão que interliga a geração de Belo Monte, no Pará, ao Sudeste. O diretor técnico e vice presidente do Cigré Brasil – Comitê Nacional Brasileiro de Produção e Transmissão de Energia Elétrica, Iony Patriota de Siqueira, considera que o Brasil detém know-how significativo em engenharia de projeto e construção de linhas e que os atrasos invariavelmente originam-se nos impedimentos legais e dificuldades de licenciamento destes empreendimentos. Há ainda a questão ambiental. Para Siqueira, as restrições ambientais à construção de novos corredores de transmissão respondem pelos principais impedimentos à expansão destas interligações. “Escolhas estratégicas, a nível nacional, entre expansão das interligações regionais e implantação de térmicas regionais, serão necessárias, a curto e médio prazos, para enfrentar as crises hídricas, cada vez mais frequentes devido à baixa precipitação e ao uso múltiplo da água dos nossos rios”, complementa.

 

Recentemente, no Plano Decenal de Energia (PDE), documento publicado no início deste ano, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) avaliou que a economia e a oferta de energia devem começar a se recuperar neste ano de 2021, mantendo um crescimento médio, respectivamente, de 2,9% e 3,0% ao ano até 2030. Pensando nisso, a instituição de pesquisa considera necessidade de investimento da ordem de R$ 2,7 trilhões no setor de energia nos próximos 10 anos, sendo R$ 2,3 trilhões relacionados a petróleo, gás natural e biocombustíveis, e R$ 365 bilhões a geração centralizada, geração distribuída e transmissão de energia elétrica. No tocante a esta última, a EPE reconhece a importância do planejamento e da flexibilidade necessária para acomodar as diferentes estratégias de implantação das fontes de geração. “A EPE vem realizando, com sucesso, estudos específicos, de caráter prospectivo, que possuem o intuito de antecipar o sistema de transmissão para a integração do potencial de fontes alternativas renováveis estimado com base nos cadastramentos dos leilões de energia”, diz o documento.

 

Na opinião de Iony Siqueira, a longo prazo não há melhor alternativa técnica do que o armazenamento em grandes reservatórios de água, praticamente inviáveis com a legislação ambiental vigente. “Excluída esta possibilidade, resta a implantação de usinas flexíveis, preferencialmente próximas à carga, sendo o gás natural a melhor alternativa do momento devido à sua disponibilidade no Brasil”, conclui.
A EPE prevê acréscimo de aproximadamente 40 mil quilômetros de novas linhas de transmissão até o ano de 2030, o que significa uma estimativa de mais de 200 mil quilômetros de linhas de transmissão em operação no final desse período. A expectativa é que os investimentos totais em transmissão atinjam cerca de R$ 89,6 bilhões ao longo desta década, sendo R$ 62,5 bilhões em linhas de transmissão e R$ 27,1 bilhões em subestações, incluindo as instalações de fronteira. Desse total, 30,4 bilhões são referentes a empreendimentos ainda sem outorga.
No que diz respeito à malha existente, um dos grandes desafios a ser enfrentado pelo planejamento da transmissão nos próximos anos consiste no envelhecimento do sistema, uma realidade que tende a se tornar mais crítica nos próximos anos. Há que assegurar a substituição da infraestrutura do sistema elétrico em fim de vida útil de modo que o conjunto das instalações possa operar com os níveis de confiabilidade e qualidade exigidos pela sociedade.

 

Aumento da demanda por ensaios em equipamentos

 

Pensando neste planejamento e expectativa de expansão da transmissão para os próximos anos, o Laboratório de Ensaios Mecânicos do Lactec, único do país a realizar ensaios de fluência, já se prepara para alta na demanda de serviços, o que deve ampliar em 25% a sua capacidade produtiva. Contribuem para esta estimativa os resultados do primeiro leilão de transmissão da Aneel, realizado em 30/06.
O Lactec espera um crescimento expressivo no volume de ensaios realizados em cabos condutores e outros componentes das linhas de transmissão de energia, como cadeia de isoladores, conectores, para-raios e estais. Para dar conta dessa alta, a empresa está implantando uma nova bancada de ensaios, que ampliará em 25% a capacidade produtiva.
É esperado um aumento, principalmente, nos chamados “ensaios de fluência”, considerando que o laboratório do Lactec é o único do país a realizar esse teste, essencial para verificar premissas de projeto em relação à tração de lançamento dos cabos e assegurar requisitos normativos de segurança da linha até o fim de sua vida útil projetada. Além desse, os ensaios mecânicos mais procurados são os de ruptura e de tensão-deformação.

 

O gerente da área de Ensaios Elétricos e Materiais, Vinicios Bacil, revela que a implantação de novos empreendimentos de transmissão deve gerar aumento, também, na demanda por avaliações da parte elétrica. Nesses casos, os mais frequentes são os ensaios dielétricos em alta tensão, como os de radiointerferência e corona visual, entre outros destinados a avaliar a coordenação de isolamento. “Temos monitorado e observado a maior procura por ensaios, em razão de novas exigências por parte das concessionárias e demais players do setor elétrico e, também, de novas obras que vêm sendo executadas”, destacou o engenheiro.

 

A preocupação das concessionárias de energia em relação à qualidade dos cabos condutores empregados nos empreendimentos de transmissão é justificável, pois o material pode representar mais de 40% do custo de implantação. É a qualidade do material, verificada nos ensaios em laboratórios qualificados, que irá determinar, também, a vida útil e confiabilidade da linha de transmissão, o que pode impactar nos indicadores de desempenho operacional e na receita das empresas desse segmento.

 

Clique aqui para fazer o download da pesquisa na íntegra.

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