Fabricantes e concessionárias têm buscado níveis mais altos de qualidade de operação e segurança, mas mercado ainda carece de certificação e ensaios compulsórios
Quadros e painéis elétricos, para atuação em baixa, média ou alta tensão, são equipamentos fundamentais para uma instalação elétrica. Mais do que o “coração” da instalação, o painel funciona como um “cérebro” de todo o sistema elétrico, já que é ele que exerce o papel de comandar o funcionamento da instalação, além de proteger os circuitos elétricos.
Os painéis elétricos podem ser de vários tipos, como de distribuição, de comando e controle e centro de controle de motores, e são constituídos por diversos dispositivos, entre eles, fusíveis, disjuntores, chaves, inversores e CLPs, a depender da especificação do projeto.
Uma das grandes preocupações na hora de especificar e montar um painel ou cubículo de média tensão é a segurança patrimonial e, principalmente, das pessoas. Cada vez mais, concessionárias, indústrias e fabricantes têm projetado e instalado equipamentos comprovadamente mais seguros. Uma prova disso é que, atualmente, em torno de 80% dos painéis de média tensão ensaiados são aprovados em um dos laboratórios mais conhecidos do país, o Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel). “E quando o fabricante busca atender aos requisitos de norma voluntariamente, com a preocupação voltada para essa segurança, ele acaba promovendo seus equipamentos para o mercado, sendo então vantajoso para todos”, avalia Wagner de Almeida Duboc, chefe do Departamento de Laboratório de Adrianópolis (DLA) do Cepel.
Ocorre que o mercado brasileiro ainda não é maduro o suficiente a ponto de, voluntariamente, certificar seus produtos. O engenheiro eletricista de O&M na Enel, Márcio Silva, especialista em soluções e padrões alinhados às inovações tecnológicas, considera que a melhor forma de buscar uma sensibilização para o tema é por meio de um esforço coletivo. “Começaria pelo Inmetro tornando compulsória a realização de ensaios, as distribuidoras dando um regramento às suas normas de forma mais rígida e profissional, os fabricantes apresentando modelos e soluções mais atrativas a fim de atender a uma grande área compreendida pelas distribuidoras, principalmente em região monofásica e rural, as seguradoras passarem a exigir como requisito que os painéis sejam de fabricantes que tenham o seu produto certificado, e por fim, e não menos importante, que o cliente se sensibilize sobre a importância de um produto certificado”, analisa. Fechando o ciclo, o poder público e a agência reguladora poderiam guiar este movimento, a exemplo do que já fizeram com veículos elétricos, mini e microgeração, entre outros. “Embora mais rígido, este trabalho tornaria o caminho mais rápido, priorizando o que todos têm em comum: a vida humana e a qualidade no fornecimento de energia elétrica”, avalia Silva.
A importância dos ensaios
Embora ainda esteja aquém do desejado, o mercado brasileiro de painéis elétricos de média tensão tem amadurecido e, cada vez mais, fabricantes e concessionárias têm buscado níveis mais altos de qualidade de operação e segurança. Os ensaios e as certificações são a prova de que os equipamentos cumprem os requisitos normativos.
Os principais ensaios de tipo em cubículos de média tensão são: ensaios dielétricos, elevação de temperatura com medição de resistência ôhmica, ensaios de verificação de corrente suportável de curta duração e valor de crista da corrente suportável nos circuitos principal e de aterramento, ensaios de verificação da capacidade de estabelecimento e interrupção nos dispositivos de manobra, ensaios de verificação de operação satisfatória dos dispositivos de manobra e partes removíveis, ensaios de verificação da proteção de pessoas contra efeitos elétricos perigosos, ensaios mecânicos e ensaio de arco devido à falha interna.
Wagner Duboc conta que, dentre esses ensaios, o Cepel realiza aqueles que necessitem de uma infraestrutura laboratorial mais específica, principalmente que envolvam potências de ensaios mais elevadas, como ensaios de verificação de corrente suportável de curta duração e valor de crista da corrente suportável nos circuitos principal e de aterramento, ensaio de arco devido à falha interna e ensaios de elevação de temperatura para valores elevados de corrente.
Duboc conta que, ao longo dos anos, tem percebido leve aumento da qualidade dos painéis que chegam para ser testados, mas devido à tendência de redução de custos, alguns projetos, já submetidos aos ensaios de tipo e aprovados, sofrendo modificações, acabam tendo problemas durante a realização de novos ensaios. “Algumas dessas modificações são provocadas por novas tecnologias, outras apenas redução de custos, mas os ensaios têm justamente a função de avaliar essas alterações, podendo resultar em equipamentos mais modernos, seguros, confiáveis e com preços mais reduzidos”, afirma.
A queima de indicadores (utilizados para verificar danos a pessoas ao redor do cubículo) durante os ensaios de arco interno está entre a maior ocorrência de falhas. Nos ensaios de corrente suportável de curta duração, a maior falha ocorre no circuito de aterramento, que rompe durante o ensaio e no circuito principal, na quebra de isoladores. Com relação ao ensaio de elevação de temperatura, a maior falha ocorre nos contatos removíveis dos disjuntores, onde o valor obtido de temperatura excede os limites de norma.
A realização dos ensaios é importante para atestar a qualidade e segurança dos equipamentos, mas também para que estes sejam aceitos pelos clientes mais exigentes. As concessionárias, por exemplo, têm uma série de recomendações e determinações para adquirir painéis e cubículos. Essas regras variam de acordo com a aplicação e com cada concessionária. O engenheiro Márcio Silva explica que os requisitos de toda distribuidora é a própria norma ABNT NBR IEC 62271-200 e correlatas, além de algumas particularidades relativas às áreas de concessão.
Como mencionado, todos os ensaios discriminados na norma são relevantes para garantir o bom funcionamento de modo seguro do conjunto blindado de média tensão, mas alguns ensaios, segundo Silva, podem ser considerados mais relevantes, como os ensaios de arco interno, de curto-circuito e de tensão suportável nominal à frequência industrial, pois estes estão diretamente relacionados à segurança não apenas da instalação, mas também dos operadores.
“Entendo que os principais riscos são a vida das pessoas nas hipóteses de sinistros podendo evoluir para um princípio de incêndio que com muita sorte ficará limitado a danos materiais e patrimoniais”, avalia o engenheiro, justificando que por este motivo os processos de homologação das concessionárias costumam ser rígidos.