O APL 2017 – The 10th Asia-Pacific International Conference on Lightning é um congresso internacional na área de proteção contra descargas atmosféricas que ocorre na região asiática a cada dois anos.
A conferência ocorreu entre os dias 15 e 19 de maio de 2017 na cidade de Krabi, no Krabi Resort, em Ao Nang ao sul da Tailândia. Após os tradicionais discursos de abertura, aconteceram duas palestras ministradas por conferencistas convidados. A primeira, do prof. Jinliang He, com o título “Advanced ZnO varistors for lightning protection of power systems”, tratou de um tipo de varistor com dopagem múltipla diferenciada (alumínio, gálio e ítrio), o que o faz ter melhores propriedades elétricas. Esta tecnologia deve ser utilizada na nova geração de varistores cerâmicos de óxido de zinco com grande não-linearidade melhorando ainda mais a proteção dos sistemas de potência contra os surtos transitórios. A segunda palestra, ministrada por Chinnawat Surussavadee, “The mobile application WMApp provide high-detailed weather forecasts for Asia and Europe, satellite retrievals of global precipitation, tropical cyclone forecasts and earthquake reports” apresentou um aplicativo para Android e iOS, que prevê com boa precisão e detalhes a previsão do tempo na Ásia e Europa utilizando novos algoritmos (AMP e JPP).
Após as palestras convidadas, a conferência seguiu sempre com duas sessões paralelas, sendo que, em alguns períodos, com uma terceira sessão (pôster), o que dificultou a participação em muitas apresentações, sendo algumas com temas muito correlatos, simultâneas. Um outro problema foi que as salas não eram muito próximas (prédios diferentes) e, como na Tailândia esta é uma estação chuvosa, ficou difícil o trânsito entre uma ou outra.
As principais sessões foram: Lightning detection and warning system II; Lightning discharge II; Practical and specific lightning protection problems (nesta sessão, o autor deste artigo foi “chair” e apresentou um trabalho técnico); Special session I; Lightning discharge I; Lightning down-conductors and earthing I e II; Lightning protection of railway and vehicles, Lightning protection of electronic systems e Lightning testing standards or guideline of lightning protection. Cada sessão consistiu de quatro a sete palestras de aproximadamente 12 minutos e mais três minutos de discussão.
Como destaque, gostaria de citar o trabalho do Alain Rousseau e do Mitchell Guthrie, participantes de vários eventos, como SIPDA, ICLP e reuniões da IEC (TC 81), em que o Alain é o representante da França e o Mitchell dos USA, além de ter sido até o ano passado o presidente do TC 81 da IEC. O trabalho apresentado por Alain Rousseau, intitulado “Direct lightning protection risk assessment on PV system”, mostra uma versão simplificada da análise de risco descrita na parte 2 da IEC 62305 para descargas diretas em sistemas fotovoltaicos. Uma vez que estes sistemas geralmente são cercados ou com poucas pessoas nas redondezas é possível simplificar a análise levando em conta somente a área de exposição equivalente e a densidade de descargas atmosféricas para a terra.
Um outro trabalho que também é relacionado a sistemas fotovoltaicos foi apresentado pelo japonês Shinsuke Tananaka, cujo título “Base of mega photovoltaic generation plant substituted as a Earth electrode” mostra um cálculo muito parecido com um já desenvolvido no IEE-USP, em que se utilizam os pilares de sustentação dos módulos como subsistema de aterramento. As conclusões foram muito parecidas com as obtidas no IEE-USP, mostrando um bom alinhamento das pesquisas realizadas na Universidade de São Paulo com outros países.
A sessão em que fui “chair” juntamente com o professor Shindo do Japão contou com quatro trabalhos, sendo um brasileiro (desenvolvido no IEE-USP) e três chineses. O trabalho que foi apresentado refere-se aos estudos sobre a proteção de tanques de combustíveis contra as descargas atmosféricas. Este trabalho é uma complementação do trabalho enviado ao APL de 2015 (Nagoya), em que novos testes em laboratório investigaram os pontos quentes gerados pelas descargas que atingem diretamente os tanques sem perfurá-los. Neste estudo, a influência da polaridade das descargas é investigada, assim como uma solução com o uso de terminais aéreos instalados nos tanques para evitar estes pontos quentes. Os outros trabalhos da sessão foram também bastante interessantes, sendo um sobre a proteção de luminárias públicas a Led contra descargas atmosféricas, um estudo de caso de proteção de um palácio (Potala) na China e um sobre a proteção de estruturas na agricultura e criação de animais.
Outros trabalhos que merecem destaque foram: “Recent trends of lightning risk management and lightning protection techniques for power systems, renewable energy sources, ITC systems, etc.” de Toshihisa Funabashi; “Lightning risk management and IEC standard 62305” do professor Shindo; e “Trends in lightning- related standards at the IEC”, apresentado por Yuta Naito. Estes três trabalhos japoneses mostram a atuação do comitê japonês na IEC com propostas específicas em itens da norma, incluindo uma modificação nos parâmetros no cálculo para a análise de risco da parte 2 do documento normativo.
Os trabalhos “Joint of Earth termination and a down conductor in Japan”, de Ozawa Akira, também mostrou um assunto já pesquisado no IEE e o trabalho “Dielectric testing of insulation down conductors”, de Ottmar Beierl, trata de um assunto discutido recentemente no comitê brasileiro. Outros trabalhos interessantes, em particular, o da chinesa Mingqiu Dai, “Damage characteristic comparison of aluminium alloy under 10/350 and 30/80 micro seconds impulse currents”, têm tudo a ver com as pesquisas que estão sendo feitas no IEE atualmente.
Em uma reunião informal com pessoal do TC 81 da IEC (Lightning Protection) presente no APL 2017 – Alexandre Kern (atual presidente do TC 81), Mitchell Guthrie (ex-presidente do TC81), Alain Rousseau (Comitê francês) e Fernanda Cruz (Comitê português) – foram obtidas informações sobre a futura edição da IEC 62305 (3ª edição). Esta, provavelmente, somente será publicada no fim de 2018 com mudanças principalmente na parte 2 com novo parâmetro (frequência de risco), mudanças na parte de aterramento (detalhamento melhor) e redução do Anexo E da parte 3 para uma futura retirada da norma para se tornar um guia, o que na ABNT NBR 5419:2015 já foi feito.
*Artigo assinado pelo professor Hélio Sueta, doutor em engenharia elétrica e secretário da CE 003.064-10. Sueta participou da décima edição da Conferência Internacional sobre Descargas Atmosféricas da Ásia-Pacífico (APL – Asia-Pacific International Conference on Lightning) e, gentilmente, aceitou contar um pouco do que aconteceu por lá neste espaço.