Poluição luminosa – o que cada um pode fazer sobre isso?

Edição 116 – Setembro de 2015
Por João Gabriel Pereira de Almeida*

Há alguns dias circulou pelas redes sociais a foto ilustrada a seguir. “Uma maravilha!”, comentou um internauta. “Lindo!”, postou outro.

Essa imagem foi criada a partir de um conjunto de fotografias tiradas em diferentes horários e posições a alguns quilômetros acima da superfície da Terra. Ela retrata um fenômeno cada dia mais comentado por todos e conhecido como “poluição luminosa”. Muitos de nós estamos familiarizados com os termos poluição do ar, poluição das águas, mas talvez nem todos conheçam esse outro tipo de poluição. 

Poluição luminosa, ou do inglês light pollution, pode ser definida como “luz artificial excessiva ou inapropriada” (Referência: Dark Skies Awareness – an IYA Cornestone Project em http://www.darkskiesawareness.org/faq-what-is-lp.php visitada em 12/08/2015), e os seus quatro componentes principais, que combinados produzem esse efeito indesejável, são:

Brilho do céu nos grandes centros urbanos: brilho do céu noturno visto sob áreas habitadas;

Luz intrusiva: luz chegando onde não se pretendia, desejava ou necessitava;

Ofuscamento: efeito desagradável que causa desconforto visual. Altos níveis de ofuscamento podem diminuir nossa capacidade de visão;

Confusão/desordenamento: agrupamento excessivo de fontes de luz brilhante e confuso, comumente encontrado em áreas urbanas super iluminadas. A proliferação dessa “confusão brilhante” contribui para o brilho do céu, luz intrusiva e ofuscamento.

Iluminação pública, iluminação de placas e letreiros, iluminação residencial, iluminação de fachadas e monumentos. Todos esses tipos de iluminação contribuem para o incremento desse tipo de poluição.

Há alguns anos ainda era possível para a grande maioria dos brasileiros visualizarem o grande espetáculo de estrelas a partir das janelas de suas casas. Me lembro bem que ainda no início dos anos 1970 tive o privilégio de ver o meu primeiro cometa a partir da janela do quarto de minha casa, situada em um bairro da zona central de Belo Horizonte (MG). Já durante a passagem do grande cometa Halley, em meados dos anos 1980, tive de me dirigir para uma área mais rural e sem muita influência das luzes da cidade para melhor visualizar esse astro magnífico. Na verdade, a poluição luminosa pode ser considerada como mais um efeito colateral perverso da revolução industrial.

O fato é que a maior parte da iluminação urbana utilizada nas cidades é ineficiente, superdimensionada e eventualmente desnecessária. A figura a seguir ilustra uma situação bastante comum encontrada em todos os nossos municípios:

No caso da iluminação pública, o primeiro passo para a redução desse problema deve ser tomado no momento da elaboração do projeto luminotécnico. Cabe ao projetista observar os critérios de iluminância/luminância recomendados para cada tipo de via pela ABNT NBR 5101 – Iluminação Pública. Vias bem iluminadas certamente contribuem muito para o aumento da poluição luminosa.

A imagem a seguir exemplifica como a iluminação urbana inadequada pode contribuir consideravelmente para a poluição luminosa em nossos municípios. Nessa imagem, podemos ver a utilização de uma luminária inadequada, que emite luz diretamente para cima e para as fachadas das residências, produzindo a luz intrusiva, ofuscamento direto, além do excessivo nível de iluminância que, refletido pelo pavimento da rua, também contribui para o aumento da poluição luminosa. (Referência: ida – International Dark-Sky Association em http://darksky.org/light-pollution/ consultado em 12/08/2015).

No entanto, a utilização de luminárias com refrator plano e com o devido controle da emissão luminosa nos ângulos acima do eixo horizontal certamente contribui para a redução dessa poluição.

O excesso de iluminação pode alterar o nosso ciclo circadiano, interferir nas rotas migratórias das aves ou mesmo na qualidade do descanso dos animais, mas existe um problema muito mais grave relacionado à poluição luminosa que muitas vezes passa despercebido por todos!

Alguns anos atrás tive a oportunidade de assistir a uma palestra de um cientista americano que me fez entender o grande problema relacionado à poluição luminosa: “por conta da iluminação feérica das grandes cidades ao redor do globo os moradores dessas áreas não podem mais ver as estrelas!”. E o palestrante completou seu raciocínio: “aqui nos EUA os dois temas que mais despertam a curiosidade das crianças para o mundo das ciências e das pesquisas são os dinossauros e as estrelas… então se nossas crianças não podem mais ver as estrelas, estamos matando 50% de possíveis futuros cientistas e pesquisadores!”. Aquela afirmação calou fundo no meu pensamento.

Em países como o Brasil, em que as universidades são mal equipadas, professores mal remunerados e os alunos nem sempre estão comprometidos com o melhor aprendizado, talvez essa ideia de matar futuros cientistas possa soar estranha, mas, e você, concorda com essa afirmação?

Para os mais interessados no assunto, alguns cursos sobre iluminação estão disponíveis no canal do Ceilux no YouTube. Não deixe de visitar e se inscrever!


*João Gabriel Pereira de Almeida é engenheiro eletricista e professor do Centro de Excelência em Iluminação (Ceil

ux). 

 


 

 

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