Open Energy é a abertura dos dados de consumo de energia elétrica, permitindo que os consumidores tenham mais controle sobre seu uso e possibilitando a criação de soluções inovadoras e produtos personalizados.
O Open Energy é bastante similar ao conceito de Open Banking (ou Open Finance) e Open Insurance, mas aplicado ao setor de energia elétrica. Todos estes formatos envolvem a abertura de dados para promover transparência, inovação e benefícios para os consumidores. Enquanto o Open Banking/Finance se concentra nas finanças, investimentos e serviços bancários, e Open Insurance para seguros; o Open Energy visa transformar a maneira como consumimos e gerenciamos a energia elétrica.
O movimento de dados abertos, em particular, teve início dos anos 2000, impulsionado por iniciativas governamentais e organizações internacionais que visavam promover a transparência, a inovação e a participação pública. Neste sentido, o conceito de Open Energy surgiu como uma extensão do movimento de dados abertos (open data) e das iniciativas de energia sustentável que ganharam força nas últimas décadas.
Vários países implementaram políticas de dados abertos que incluíam o setor de energia, como por exemplo, (i) Estados Unidos com a Open Energy Data Initiative (OEDI) e o Data.gov, que inclui uma seção dedicada a dados de energia a EIA (U.S. Energy Information Administration) disponibiliza uma vasta gama de dados sobre produção, consumo, preços e infraestrutura de energia nos Estados Unidos; (ii) Reino Unido: o National Grid e outras entidades começaram a publicar dados energéticos detalhados e acessíveis; e (iii) União Europeia: a Comissão Europeia promove várias iniciativas para a abertura de dados energéticos através do programa Horizon 2020, entre elas a ENTSO-E Transparency Platform que é a plataforma de transparência da European Network of Transmission System Operators for Electricity (ENTSO-E) e oferece dados sobre o sistema elétrico europeu;
Existem outros exemplos de aplicações e fontes de dados abertos em energia: (i) OpenEI (Open Energy Information) que oferece uma plataforma colaborativa com dados sobre recursos energéticos, tecnologias e políticas; e a (ii) RESDAT (Renewable Energy Sources Database) que é a base de dados com informações sobre projetos de energia renovável em vários países.
Com o Open Energy, mediante a autorização do consumidor, existe o compartilhamento de dados energéticos para outras empresas e organizações. O acesso a informações detalhadas sobre consumo de energia de um usuário poderiam, portanto, serem acessadas por diferentes entidades, sejam públicas ou privadas, e utilizados por diversos stakeholders, incluindo governos, empresas, pesquisadores e consumidores, para promover a transparência, a eficiência e a sustentabilidade no setor energético.
Como funciona? Tradicionalmente, as distribuidoras de energia compilam e mantêm os dados de consumo em sigilo.
De forma geral, o Open Energy envolve a disponibilização de uma ampla gama de informações sobre o setor energético. Essas informações são variadas e podem ser utilizadas para diferentes propósitos, desde a pesquisa e desenvolvimento até a tomada de decisões informadas por consumidores e empresas:
1. Dados de Produção de Energia – Quantidade de Energia Gerada: dados sobre a quantidade de energia gerada por diferentes tipos de usinas (eólica, solar, hidroelétrica, nuclear, térmica etc.). Capacidade Instalada: Informações sobre a capacidade instalada de geração de energia em diferentes regiões e tipos de fontes. Desempenho das Usinas: eficiência, fatores de capacidade e disponibilidade das usinas de geração.
2. Dados de Consumo de Energia – Consumo por Setor: dados sobre o consumo de energia em setores residenciais, comerciais, industriais e de transporte. Padrões de Consumo: informações sobre o consumo de energia ao longo do tempo (diário, semanal, sazonal) e em diferentes regiões. Consumo por Tipo de Energia: detalhamento do consumo de eletricidade, gás natural, petróleo etc.
3. Dados de Preços e Tarifas – Preços de Energia: informações sobre os preços da eletricidade, gás natural e outros combustíveis, incluindo tarifas por hora e por tipo de consumidor. Estrutura Tarifária: detalhes sobre a estrutura tarifária aplicada a diferentes tipos de consumidores e horários.
4. Dados de Infraestrutura Energética – Localização e Capacidade das Infraestruturas: informações sobre a localização de usinas, subestações, redes de transmissão e distribuição. Interconexões e Fluxos de Energia: dados sobre os fluxos de energia entre diferentes regiões e através de fronteiras internacionais.
5. Dados Ambientais e de Sustentabilidade – Emissões de Gases de Efeito Estufa: informações sobre as emissões associadas à geração e consumo de energia. Impactos Ambientais: dados sobre o uso de recursos naturais, impactos ambientais de projetos de energia, e medidas de mitigação implementadas. Energia Renovável: informações sobre a geração e o uso de energias renováveis, incluindo incentivos e subsídios.
6. Dados de Mercado e Financeiros – Mercado de Energia: dados sobre operações de mercado, preços de mercado spot, futuros de energia, e contratos de compra de energia (PPAs). Investimentos e Financiamentos: informações sobre investimentos em infraestrutura energética e financiamento de projetos de energia.
7. Dados de Políticas e Regulamentações – Legislação e Normas: informações sobre políticas energéticas, regulamentações, e metas de eficiência energética e redução de emissões. Incentivos e Subsídios: detalhes sobre incentivos governamentais para energias renováveis e eficiência energética.
Desta forma, a prática de abrir dados no setor energético tem o potencial de transformar o setor de várias maneiras, promovendo a eficiência, a sustentabilidade e a inovação.
Portanto, à medida que mais países e organizações adotam práticas de Open Energy, espera-se que novas tecnologias e soluções sejam desenvolvidas, contribuindo para a transição global para um sistema energético mais limpo e eficiente, com vantagens amplas:
- Transparência e Empoderamento do Consumidor: o Open Energy permite que os consumidores acessem dados detalhados sobre seu consumo de energia. Isso possibilita uma compreensão mais clara dos padrões de uso e ajuda a tomar decisões informadas.
- Inovação e Desenvolvimento de Soluções Personalizadas: com dados abertos, empresas e desenvolvedores podem criar aplicativos e serviços inovadores. Por exemplo, aplicativos que recomendam horários mais econômicos para usar energia ou que otimizam o uso de painéis solares.
- Eficiência Energética: Com informações detalhadas, é possível identificar áreas de desperdício e implementar medidas para reduzir o consumo. Isso beneficia tanto os consumidores quanto o meio ambiente.
- Integração com Outros Setores: o Open Energy pode se integrar ao Open Banking, permitindo que os consumidores gerenciem suas finanças e consumo de energia em uma única plataforma.
- Diversificação de Fontes de Energia: com acesso a dados, é possível explorar fontes alternativas de energia, como solar, eólica ou geotérmica.
Em resumo, o Open Energy promove maior conscientização, eficiência e inovação no setor elétrico.
Todavia, muito embora o Open Energy e os dados abertos no setor elétrico ofereçam muitas vantagens, também existem alguns pontos de atenção a serem consideradas:
- Privacidade e Segurança: com dados abertos, há preocupações com a privacidade dos consumidores. Informações detalhadas sobre o consumo de energia podem ser sensíveis e precisam ser protegidas adequadamente.
- Complexidade Técnica: implementar e manter sistemas de dados abertos requer infraestrutura e recursos técnicos. Isso pode ser desafiador para algumas empresas ou organizações.
- Acesso Desigual: nem todos os consumidores têm igual acesso ou capacidade de aproveitar os dados abertos. Isso pode criar disparidades entre aqueles que podem se beneficiar e aqueles que não podem.
- Sobrecarga de Informações: muitos dados podem ser esmagadores para os consumidores. Interpretar e usar essas informações requer conhecimento e habilidades específicas.
De forma geral, porém, a abertura de dados é um componente crucial para o avanço do setor energético, promovendo a eficiência, a inovação e a sustentabilidade.
Referências:
https://dadosabertos.aneel.gov.br
https://forbes.com.br/principal/2019/07/quais-sao-os-pros-e-contras-do-modelo-energetico-do-brasil
https://www.energysage.com/energy-policy/open-energy
https://www.utilitydive.com/news/open-energy-what-it-is-and-why-its-important/600145
https://openei.org/wiki/Main_Page
Sobre o autor:
Frederico Carbonera Boschin é Diretor Executivo da Noale Energia e Sócio da Ferrari Boschin Advogados. Conselheiro da ABGD; Conselheiro Fiscal do Sindienergia RS e Professor do Curso de MBA da PUC/RS, UCS/RS e PUC/MG.