Os veículos elétricos estão presentes há anos nas discussões que envolvem sustentabilidade e futuro. O que falta para a sua entrada efetiva nos mercados brasileiro e internacional? Trata-se de uma questão técnica ou política? A rede elétrica de distribuição está preparada para atender a essa nova demanda? Estas são algumas das perguntas para as quais as respostas ainda não são completas ou suficientes.
Iniciativas estrangeiras e brasileiras unem esforços para tornar a solução viável para o consumidor final. Alguns entraves ainda persistem, mas as notícias são otimistas. Veja o que pensam especialistas deste mercado.
Jayme Buarque de Hollanda
Presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE)
No início dos anos 1990, a viabilidade de expandir a mobilidade sobre pneus com base nos combustíveis fósseis foi posta em dúvida pelos efeitos ambientais negativos. O veículo elétrico (VE) surge como alternativa para reduzir as emissões além de ser mais eficiente que aqueles equipados apenas de motores de combustão interna.
Vários países criaram incentivos fiscais e de crédito para estimular o desenvolvimento dos VE. Como resultado, as grandes montadoras já têm ou anunciam o lançamento de modelos comerciais de VEs. Os carros elétricos híbridos (em que a energia elétrica é gerada a bordo) já respondem por 3% do mercado de novos carros nos Estados Unidos. A venda de VE a bateria cresce à medida que acumuladores para tração melhoram a performance e ficam mais baratos.
No Brasil, o VE tem sido uma não questão para o governo que, ao taxar os carros elétricos de passageiro com a maior alíquota do IPI, na verdade cria barreiras. Não obstante, algumas montadoras têm demonstrado seus VE no Brasil e Itaipu e CPFL, empresas do setor elétrico, desenvolvem VEs para nichos de mercado. No mercado globalizado, à medida que crescer a escala mundial de produção os VEs vão entrar no mercado brasileiro, o que deve ocorrer em médio prazo.
Por outro lado, o emprego da tecnologia híbrida em veículo pesado é mais simples e como estes em geral são produzidos sob encomenda, abre-se uma oportunidade importante para a indústria brasileira. Por isso há ônibus projetados e fabricados aqui, alguns que já operam há mais de dez anos em experiência singular, com paralelo apenas na cidade de Nova York. Vale notar que a potência do motor de combustão interna que aciona o gerador desse ônibus é compatível com o uso de motores a etanol e, na minha, visão, será a forma mais indicada para, em médio prazo, substituir o diesel pelo etanol no Brasil.
Raul Fernando Beck
Responsável técnico pela área de sistemas de energia do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD)
O grande desafio técnico, que tem sido foco de grandes investimentos e intensas pesquisas em todo o mundo, é a fonte de energia embarcada para o veículo elétrico, isto é, a bateria, componente crítico para a viabilização dessa tecnologia. O objetivo é desenvolver uma bateria com alta densidade energética e longa vida cíclica, de baixo custo e que possa ser recarregada rapidamente, de forma segura e amigável com o meio ambiente.
Os governos dos Estados Unidos, da Europa e da Ásia estão investindo bilhões de dólares em projetos de pesquisas, em uma corrida para desenvolver baterias que atendam aos requisitos para aplicação em veículos elétricos. No Brasil, esse processo está emergindo lentamente e há algumas iniciativas de projetos de pesquisa em veículos elétricos que já apresentam protótipos funcionais, como é o caso dos VEs fruto das parcerias entre Itaipu e Fiat e entre CPFL e Edra.
Outra questão técnica importante é a adaptação da rede de distribuição de energia elétrica atual para esse novo produto, disseminando pontos de recarga de alta capacidade de energia em uma grande base territorial. No entanto, o aumento da demanda de energia não é fator crítico, pois vários estudos demonstram o baixo impacto resultante da inserção dos veículos elétricos no consumo de energia.
Em relação às questões políticas, a adoção do veículo elétrico encontra apoio governamental em boa parte dos países que aposta nessa tecnologia, inclusive com grandes subsídios financeiros aos produtores e consumidores. O fato é que no Brasil ainda nos deparamos com o “lobby” dos produtores do setor sucro-alcooleiro, que têm pressionado o governo de modo a evitar a concessão de benefícios aos veículos elétricos sem a devida contrapartida para os veículos “flex”.
Paulo Cezar Coelho Tavares
Vice-presidente de Gestão de Energia da CPFL
O Brasil já está no caminho para fomentar a fabricação de veículos elétricos. E a CPFL está na vanguarda de iniciativas neste segmento. Desde 2006, a empresa investe em pesquisa e desenvolvimento de veículos elétricos, tendo como premissa a busca por soluções que emitam menos carbono e utilizem fontes de energia alternativas.
O governo brasileiro já estuda propostas para redução da incidência de impostos sobre este tipo de veículos e as empresas têm tido conquistas nesta área. No caso da CPFL, conseguimos nesta semana emplacar dois veículos elétricos noruegueses modelo TH!NK City, que já podem circular oficialmente pelas ruas.
Nosso projeto de veículos elétricos conta ainda com quatro utilitários ARIS (projetado pela EDRA Automotores e já homologado pelo Denatran); um Palio Weekend, uma iniciativa da CPFL, Itaipu e Fiat e motos elétricas, cuja pesquisa de viabilidade está sendo realizada pela Unicamp.
Em termos de demanda por energia elétrica, podemos considerar um aumento, mas isso não representa um problema para o País, que tem 45,4% de sua matriz energética de origem renovável, o que capacita o Brasil a atender perfeitamente esta elevação do consumo de energia. Mais do que isso, vale ressaltar a redução das emissões que a adoção dos veículos elétricos trará às cidades brasileiras.