Edição 122 – Março de 2016
Por Jobson Modena
Em muitos países, os fabricantes de materiais para Sistemas de Proteção contra Descargas Atmosféricas (SPDA) contratam consultores, apoiam eventos e vendem seus produtos através de distribuidores. No Brasil, as empresas de ponta deste setor enfrentam enormes dificuldades em competir neste mercado, sempre tentando inovar, mas com pouco sucesso. Aqui as grandes empresas são muito procuradas para apoiar eventos e quase sempre declinam. Países com PIB menor como a Colômbia, Bolívia, Peru e Chile têm um mercado de materiais para SPDA mais saudável do que o nosso, mas aqueles que acham que é um lamento de fabricantes estrangeiros, peçam a opinião de fabricantes nacionais tradicionais, que oferecem produtos de qualidade, sobre a concorrência que todos enfrentam de fornecedores sem nenhum compromisso com a qualidade. Se mudarmos o foco de fabricantes para prestadores de serviço, o quadro não será diferente, já que existe uma inter-relação entres os agentes de um setor.
Ao fazer um estudo sobre a oferta de Dispositivos de Proteção contra Surtos (DPSs) no Brasil consegui identificar mais de 50 fornecedores de DPSs. Em nenhum outro país do mundo existe este número. Aparentemente, seria um benefício para o consumidor pelo aumento da oferta, mas justamente o oposto acontece, pois, a falta de requisitos mínimos de qualidade estabelecidos por mecanismos de certificações permite a livre oferta de produtos destinados a proteger vidas humanas sem que exista uma responsabilização pela eficácia do que é fornecido, colocando as pessoas em risco e permitindo uma concorrência desleal.
Este artigo surgiu após assistir a entrevista do engenheiro de uma empresa especializada em SPDA. Na entrevista, ele afirmava que “as normas brasileiras são muito complexas e, por isso, eles se associaram a um fabricante europeu que desenvolveu uma solução que torna o SPDA 30% mais barato”. Precisaríamos refletir sobre se complexa é a norma ou o assunto do qual ele trata e o que significa exatamente caro e barato.
A parte 2 da ABNT NBR 5419:2015 trata do gerenciamento de risco e permite avaliar a relação entre o custo e o retorno das medidas adotadas na proteção contra as descargas atmosféricas. A redução do custo dos sistemas de proteção é obtida pela contratação de um bom projetista e não pela aquisição de produtos de baixa qualidade.
Segundo dados da associação das empresas de seguro da Alemanha, entre 2012 e 2014 foram gastos 910 milhões de euros com prejuízos causados por descargas atmosféricas naquele país (www.gdv.de, acessado em 13 de março de 2016). Os alemães sabem que este valor seria muito maior se eles economizassem recursos no aprimoramento das suas medidas de proteção contra descargas atmosféricas.
O prejuízo causado pelas descargas atmosféricas no Brasil é inversamente proporcional ao nosso investimento na qualificação de mão de obra especializada. Um grande esforço está sendo feito, como mostra o espaço disponibilizado por esta revista, os cursos e as palestras realizados por profissionais efetivamente na revisão da ABNT NBR 5419 e no interesse que este assunto tem despertado.
Como em outros setores, também existe a cadeia de valor da proteção contra descargas atmosféricas, formada pelos fabricantes, projetistas, distribuidores e instaladores. O amadurecimento desta cadeia é o caminho para reduzirmos os prejuízos causados pelas descargas atmosféricas e a publicação da ABNT NBR 5419:2015 foi fundamental para este objetivo.
* Artigo gentilmente escrito pelo engenheiro Sergio Roberto Santos, engenheiro eletricista e membro da comissão de estudos CE 03:64.10, do CB-3 da ABNT.