Rede elétrica subterrânea x Vacina do Butantan

Escrevo essa coluna dias após a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) ter liberado o uso emergencial das vacinas Coronavac e da Universidade de Oxford para uso contra o novo Coronavírus. Particularmente, estou feliz por poder escrever o primeiro artigo do ano com uma notícia boa que traz esperança para 2021.

Acredito que todos acompanharam nos últimos meses as discussões, muitas vezes inflamadas, sobre a confiabilidade ou não da vacina do Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, por grupos que defendem uma posição rígida e que na maioria das vezes é antagônica a outro grupo, o que fica nítido uma polarização ideológica. Essa polarização, assim como a polarização causada pelos testes de tensão aplicados em corrente  contínua,  o  famoso  “Hipot  –  DC”, nos cabos isolados de média tensão, só traz malefícios. No primeiro caso, a sociedade fica refém de ideologias de esquerda ou de direita; e, no segundo caso, o XLPE ou EPR fica comprometido e vulnerável a falhas tendo como causa a polarização dos prótons e elétrons que formam o polímero.

Por mais que seja tentador entrarmos nas discussões ideológicas apoiando uma ou outra posição sobre o ponto de vista das nossas crenças pessoais, como militantes não de partidos políticos de esquerda ou de direita, mas sim militantes da boa engenharia elétrica, sabemos que nossa opinião tem que estar sustentada por fatos e dados e não por vontades e desejos. Imagine se um projetista escolhesse a classe de tensão de um cabo baseado na sua vontade e desejo. “A técnica estabelece que aqui eu devo utilizar cabos com isolação de 35kV, porém, como meu filho irá fazer 15 anos vou fazer uma homenagem a ele e utilizar a classe de isolação de 15kV”. Dá para imaginar o desastre que seria se nós da engenharia tomássemos decisões não sustentadas pela técnica?

A filosofia é a mãe de todas as ciências, entre elas, a ciência exata, que é a ciência dos fatos e dados que nos norteia a tomar decisões seguindo normas e procedimentos rígidos, e que bom que é assim.

Para quem não conhece, o Instituto Butantan é vizinho do IPT (instituto de Pesquisa e Tecnologia), que fica dentro do complexo da USP. São instituições centenárias que se tornam motivo de orgulho não só para São Paulo, mas também para todo o Brasil, tendo em vista que ali atuam excelentes profissionais de todos os cantos do nosso país. Fatos e dados, melhores práticas internacionais (papers, normas e etc) fazem parte da rotina diária dessas instituições. Então, discussões ideológicas sobre a confiabilidade da vacina não fazem o menor sentido. O que faz sentido e deve ser sempre seguido é a força dos dados e dos fatos puramente técnicos. E como técnicos que somos, sabemos que não existe técnica perfeita, como nos projetos elétricos, analisamos a relação do custo versus o benefício, onde o ganho tem que ser maior que o custo.

Fachada do Instituto Butantan, em São Paulo 

Essa análise da RCB (Relação Custo Benefício) há mais de vinte anos foi feita, então, toda a rede de distribuição elétrica deste complexo que abriga USP, IPT e Butantan foi substituída de redes de distribuição aérea para redes de distribuição subterrânea. Novamente, convido o leitor a imaginar como poderia atrasar os resultados do desenvolvimento da vacina se a energia elétrica que alimenta o Instituto Butantan fosse proveniente de uma rede aérea que em média é 20 vezes menos confiável do que a rede subterrânea. Então, a confiabilidade da vacina está intrinsecamente relacionada à confiabilidade dos seus insumos e, dentre eles, a confiabilidade da energia elétrica que chega na forma das redes subterrâneas.

E, por último, mas não menos importante, vale destacar que já há alguns anos em que a avaliação da confiabilidade da rede elétrica subterrânea da USP e do Instituto Butantã é realizada fazendo o diagnóstico nos cabos isolados de média tensão subterrâneos, através da medição do grau de envelhecimento do isolante (medição de Tangente Delta), da identificação de defeitos ocultos através das medições de descargas parciais e também a verificação da integridade da blindagem. Tudo isso para antever possíveis falhas que, apesar da rede subterrânea ser dezenas de vezes mais confiável que a aérea, também está sujeita a falha.

Ah, obviamente seguindo os rigorosos padrões de medição estabelecidos nas normas e guias internacionais IEEE 400.2, IEEE e IEEE 1617. Afinal, a confiabilidade também aqui só pode ser verificada através de parâmetros técnicos! Sem achismo, por favor!

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