A norma ABNT NBR 5422 – Projeto de linhas aéreas de energia elétrica – Critérios técnicos, foi publicada em 17/01/2024. O trabalho foi conduzido pela comissão de estudo 003:011.001. Esta norma se aplica a linhas CA (corrente alternada) de 69 kV até 765 kV, bem como a linhas CC (corrente contínua).
Embora, em regra geral, uma norma não seja mandatória, a NBR 5422 é adotada pela ANEEL em suas regras de transmissão e editais de leilões, o que lhe confere um peso significativo.
O processo de revisão começou logo após a publicação da versão anterior, em 1985, e levou 38 anos. Neste longo tempo o mercado já buscava alternativas, como a IEC 60826, e mesmo com a comissão agregando um grande conhecimento, a revisão parecia “impublicável”. Os motivos para esta demora incluem a falta de consenso em algumas partes e a expectativa de abordar todos os aspectos de projeto. Vale ressaltar que uma norma ABNT deve ser fruto de consenso, e não de votação: toda oposição fundamentada deve ser discutida. O consenso também não se trata, necessariamente, de unanimidade do grupo.
Principais mudanças
O texto da NBR 5422/24 incorporou conceitos modernos, incluindo particularidades do sistema elétrico brasileiro. Destacam-se aqui:
- Temperatura no condutor: introduz-se o conceito de risco térmico, no qual aplica-se a distribuição estatística da temperatura a partir de medidas simultâneas horárias dos parâmetros meteorológicos, aplicado a dois regimes de corrente e duas condições de operação. Na versão anterior, estes critérios eram fixos, ou seja, determinísticos, o que apesar de possibilitar um cálculo mais expedito, pode subdimensionar o projeto.
- Distâncias de segurança: as temperaturas obtidas pelo risco térmico são aplicadas no cálculo das distâncias verticais de segurança. A parcela elétrica considera tanto os regimes de tensão em frequência industrial, quanto sobretensões, incluindo a coordenação de isolamento da linha e fatores de gap relativo ao obstáculo. As distâncias horizontais consideram o ângulo de balanço, incluindo a questão de balanço assíncrono, um fator determinante para linhas compactas.
- Ação do vento: introduz-se o conceito do fator de turbulência, sendo essa a principal distinção desta norma com o modelo IEC 60826, utilizado para adequar as medições de vento com a realidade observada no Brasil, basicamente majorando os ventos por região: 8% para região Sul, 12% para Sudeste e Centro-oeste e 16% Norte e Nordeste. Destaca-se também o critério de vento de período de integração 3 segundos, representativo de rajadas e microexplosões.
Outros pontos abordados pela NBR 5422 são os critérios de dimensionamento de cada componente (condutores, suportes, fundações e isoladores), aspectos de meio ambiente, travessias e critérios de campo eletromagnético e interferências.
Perspectivas
A NBR 5422/24 representa um avanço significativo no projeto de linhas aéreas. No entanto, muitos aspectos ainda não foram abordados. Uma das razões para isso é a falta de pesquisa nessas áreas, uma lacuna que é sentida globalmente. Alguns desses aspectos incluem:
- Ângulo de balanço e balanço assíncrono
- Critérios de isolamento para linhas CC
- Distâncias de segurança para linhas CC
A norma também depende de uma modelagem adequada dos parâmetros climatológicos, considerando as mudanças climáticas atuais, tanto para os esforços de vento quanto no seu impacto na ampacidade estatística.
Embora a atualização represente um salto significativo da realidade do setor elétrico de 1985 para 2024, muitos documentos de entidades como ANEEL e ONS ainda fazem referência à versão anterior, demandando assim um tempo para sua adoção. Por exemplo, a ANEEL especificou o uso da versão de 1985 no leilão de transmissão de 28/03/2024.
Finalmente, esta publicação não é apenas o fim de um ciclo, mas também o início de um novo, onde o mercado já está buscando se adaptar e participar da próxima revisão. Uma norma só se torna legítima com a participação equânime da sociedade.
Referências
Athanásio Mpalantinos Neto et al, “A nova norma NBR 5422 – Projetos de linhas aéreas de transmissão de energia elétrica – principais avanços e mudanças,” XXVI SNPTEE, GLT-27, Rio de Janeiro, 2022.
Sobre o autor
Carlos Kleber da Costa Arruda é engenheiro eletricista, pesquisador do Cepel e secretário do CE 003:011.001.