Estamos em plena Safra dos Ventos, que é o período do ano em que registramos os melhores ventos para produção de energia eólica, indo de junho a novembro. É na “Safra dos Ventos” que registramos os nossos recordes de geração do ano. E para o ano de 2021, já começaram a chegar novos avisos do Operador Nacional do Sistema (ONS) sobre os recordes para esta temporada.
No dia 21 de julho, por exemplo, registramos uma marca não apenas inédita, mas muito importante. Naquele dia, registramos um recorde médio diário com geração de 11.094MWmed, o que corresponde a 99,9% da demanda da Região Nordeste. O valor anterior era de 10.873MWmed, em 12 de julho, o que correspondia a 98,8% da demanda.
E não é só no Nordeste que os recordes são registrados, já que a alta geração eólica desta época do ano tende a significar também um maior atendimento do Sistema Interligado Nacional (SIN). Afinal de contas, embora tenhamos cerca de 80% da capacidade instalada no Nordeste, o Sul do Brasil tem uma capacidade instalada muito importante, sendo o Rio Grande do Sul o quarto estado com mais parques eólicos no Brasil. Nos recordes do SIN, nós já chegamos a atender 17% da demanda com eólica.
Estamos batendo estes recordes porque, em primeiro lugar, estamos instalando cada vez mais parques. Há dez anos, tínhamos pouco mais de 0,6 GW instalados e estamos chegando neste segundo semestre de 2021 com mais de 19 GWs, mais de 726 parques eólicos e mais de 8.500 aerogeradores em operação.
E tem um outro fator importante: a qualidade de nossos ventos. Para produzir energia eólica, são necessários bons ventos: estáveis, com a intensidade certa e sem mudanças bruscas de velocidade ou de direção. O Brasil tem a sorte de ter uma quantidade enorme desse tipo de vento, o que explica em grande medida o sucesso da eólica no Brasil nos últimos anos. Enquanto a média mundial do fator de capacidade está em cerca de 34%, o Fator de Capacidade médio brasileiro em 2020 foi de 40,6%, sendo que, no Nordeste, durante a temporada de safra dos ventos, que vai de junho a novembro, é bastante comum parques atingirem fatores de capacidade que passam dos 80% ou mesmo médias mensais de cerca de 60% em estados do Nordeste. Somos abençoados não apenas pela grande quantidade de vento, mas também pela qualidade dele.
O que nossos números e os recordes nos mostram é a robustez da nossa estrutura e confirmam que as eólicas estão ajudando o país nos momentos de escassez de chuvas e dos baixos reservatórios das hídricas. Em 2001, quando enfrentamos um racionamento de energia, a situação era muito diferente e mais de 85% era de hídricas. De lá para cá, a matriz se diversificou e as hidrelétricas respondem por cerca de 60% com outras fontes como eólica, biomassa e solar na matriz. Em 2001, os ventos não eram aproveitados, era carta fora do baralho na gestão da crise. Hoje a realidade é outra e a estação dos ventos está apenas começando. Ainda podemos ajudar o sistema muito mais.
A crise hídrica que estamos vivendo nos traz, além da necessidade de gestão das fontes, um ponto muito importante: as mudanças climáticas são uma realidade e isso tem impacto no planejamento que fazemos. E, se por um lado podemos ajudar no lado da “oferta”, também podemos ajudar quando o assunto é o futuro e a necessidade de lutarmos pela redução de gases de efeito estufa, até atingirmos o net zero, zerando as emissões.