Iniciamos esta coluna mensal para tentar desenvolver assuntos relacionados ao mundo da iluminação, da energia e dos controles. São temas pelos quais me dedico desde a faculdade, lá pelos anos de 1980, quando tomei contato com a iluminação, quando a lâmpada fluorescente mais moderna era a T10 com 40 W e quando existiam as lâmpadas HO com 110 W, as lâmpadas a vapor de mercúrio de 400 W, ovoides… pensando bem, estou me sentindo “meio velho”.
Os reatores eram eletromagnéticos, pesados e feitos com muito ferro, “roncavam” bastante e perdiam uma quantidade grande de energia. As lâmpadas serviam para produzir luz e as incandescentes existiam livremente no universo chamado “mercado”.
Uma característica que estas tecnologias tinham em comum era fazerem parte das tecnologias analógicas, trabalhando sempre na frequência de 60 Hz (no Brasil). Era um tempo em que as famílias de produtos eram praticamente padronizadas. Entre os poucos fabricantes no Brasil, tínhamos os famosos “quatro grandes”, formados pela Philips, General Electric, Osram e Sylvania.
Até onde minha memória alcança, me vejo observando a iluminação. Quando pequeno, lembro do tempo em que havia iluminação incandescente nas vias públicas e a nova tecnologia era chamada de lâmpada a vapor de mercúrio. Estas lâmpadas tornaram as cidades com aparência mais claras do que com as incandescentes e as pessoas se sentiam prestigiadas quando as ruas de suas casas recebiam esta nova tecnologia.
Lembro quando trocaram as lâmpadas incandescentes da rua onde morava, na rua Fradique Coutinho, no bairro de Pinheiros, em São Paulo (SP), fiquei acompanhando o caminhão da AES Eletropaulo trocar a luminária, e, quando acenderam a nova, vi uma luz branca e forte.
Depois, vieram as lâmpadas amareladas, que alguns chamavam de “branco douradas” e que de branco não tinham nada. Quando comecei a pesquisar sobre iluminação, estava no primeiro ano da faculdade, então, pedi um estágio em uma empresa que fabricava relés e luminárias para iluminação pública. O pai de um amigo meu era o proprietário. Sempre participava das feiras em que esta empresa mostrava seus produtos, pois meu amigo e eu ajudávamos nas montagens. E foi neste período do estágio que me deparei com o mundo da iluminação. Estamos falando de 1983.
Conheci o que era fotometria, fui apresentado a um gôniofotômetro, dobrei chapa, colei borracha de vedação, testei lâmpadas, entendi o que era um reator de referência, aprendi sobre corrente de partida, capacitância para correção de fator de potência, enfim, era um mundo bastante interessante aquele.
Mas por que estou contando toda esta história? Te digo que é para você se situar no mundo da iluminação desde quando eu me situei, pois o que vamos conversar, a partir deste artigo, é um mundo muito diferente.
Em primeiro lugar, naquele tempo, as coisas eram muito mais padronizadas, ou seja, os produtos eram bastante semelhantes entre as diversas marcas, por exemplo, as lâmpadas fluorescentes apresentavam seus fluxos luminosos muito similares. Você poderia usar uma lâmpada fluorescente em um reator eletromagnético de outra marca, pois não havia incompatibilidades.
Hoje em dia, temos produtos bastante diferentes entre si, entre marcas que, hoje, são inúmeras, os reatores são eletrônicos e, às vezes, nem recebem mais esse nome; são chamados de drivers.
Enfim, o que realmente importa entender é que as tecnologias utilizadas no mundo da iluminação avançaram bastante, porém, se você comparar com outras tecnologias, como da telefonia, por exemplo, verá que até demoramos bastante para entrar neste novo mundo, o mundo digital.
Ministro um curso de pós-graduação em iluminação para uma turma de Engenharia Elétrica, onde procuro atualizar os conceitos utilizados na iluminação, pois entendo que, pela grande velocidade das atualizações tecnológicas, há um certo “gap” entre os conceitos utilizados pelos lighting designers e pelos engenheiros eletricistas, principalmente.
Também serão assuntos desta coluna as evoluções conceituais que os avanços tecnológicos propiciam. As novas tecnologias proporcionam novas aplicações e as demandas dos projetos de lighting design sugerem novas tecnologias e novos avanços além das existentes. É um ciclo virtuoso que fez com que o setor alcançasse níveis altíssimos de qualidade.
Vamos, assim, iniciar esta jornada, saindo do corredor escuro em que a iluminação pode estar aparecendo para você, jogando uma “luz” sobre os diversos conceitos, tecnologias, normas, aplicações e tantas outras possibilidades que temos nos campos da Iluminação, dos controles e da energia.