O título desta coluna é uma frase atribuída a Winston Churchill, que, na interpretação desse colunista, significa que em momentos de crises não podemos parar porque o que for realizado hoje terá impacto no amanhã. E por falar em amanhã…
O que queremos do nosso amanhã? O que pensamos para o futuro? Se tem algo que nos conforta em momentos de crise é ter a esperança de que a dificuldade é passageira e o futuro apresenta perspectivas muito melhores.
No setor elétrico, o momento é de forte redução na demanda por energia, o que tem feito com que haja uma capacidade excedente em toda a infraestrutura de geração e transmissão. Entretanto, isso não significa que há um excedente estrutural no setor elétrico brasileiro.
Os planejamentos de expansão do setor são realizados com antecedência de dez anos, justamente porque o tempo de desenvolvimento das obras do setor requer muita antecedência.
Grandes obras de geração de transmissão precisam de 5 a 6 anos para serem construídas, e para que seja colocada a sua pedra fundamental, meses e às vezes anos de trabalho foram precedidos para tratar dos aspectos ambientais que viabilizam a construção do empreendimento.
Por esse motivo que é fundamental não perdermos de vista esse horizonte de longo prazo, caso contrário, lá na frente pagaremos o preço de termos a visão restrita a conjuntura atual.
Estamos passando no momento pela discussão da viabilização do leilão de transmissão previsto para ser realizado em dezembro deste ano. Este leilão possui importantes obras de subestações e linhas de transmissão espalhadas pelo Brasil.
Nesta relação existem também linhas de transmissão previstas para serem instaladas em regiões com alta concentração de carga, que, justamente por serem áreas densamente povoadas, precisam ser construídas de forma subterrânea.
Essas linhas foram planejadas pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) justamente por serem consideradas necessárias para atendimento do aumento da carga previsto para o próximo decênio. Apesar da queda atual na demanda energética, a retomada da economia ocorrerá, e, em um horizonte de longo prazo, a necessidade dessa infraestrutura permanece sendo necessária.
Em junho deste ano, a Aneel deliberou pela postergação por quatro meses o prazo de entrega dos empreendimentos de transmissão que foram outorgados após a decretação da pandemia. A medida foi instituída justamente pela dificuldade em realizar a mobilização inicial para o início da execução do empreendimento.
Essa postergação é uma medida razoável e sensata, sem prejuízo no longo prazo, tendo em vista a ampla antecedência que estes empreendimentos foram viabilizados.
Entretanto, no caso das obras previstas no leilão de transmissão a ser realizado no final deste ano, o governo tem cogitado a possibilidade de não realizar o leilão, sem nova data definida.
Operar o setor elétrico é como comandar um navio transatlântico. A inércia é muito grande e qualquer movimento precisa ser planejado com muita antecedência. Os empreendimentos que estão planejados neste leilão têm a previsão de início de operação entre 2025 e 2026, pelo edital que foi colocado em consulta pública.
Se perdermos o ritmo agora, o tempo de retomada será muito grande e depois não conseguiremos compensar, podendo passar por problemas que já tivemos em passado recente de termos usinas em condições de operar, mas que precisam ficar paradas pela falta de linhas de transmissão disponíveis para escoar essa produção.
Ou ainda, no caso das linhas próximas dos centros de carga, haverá redução da confiabilidade pela falta de opções de escoamento da carga em situações de contingência, ou poderá haver sobrecargas nas linhas existentes que não poderão contar com os reforços que haviam sido previstos para atender o aumento de demanda esperado.
O cenário é de muita atenção e o governo precisa ter essa visão de longo prazo para o setor elétrico, caso contrário, a crise atual poderá estar plantando a semente de outras crises que se desenvolverão futuramente.