Em entrevista exclusiva à Revista O Setor Elétrico, o Gestor da EDP, Adilson Herzog, deu detalhes desta edição, que promete movimentar o mercado de energia
Promover a inovação e o desenvolvimento do segmento de distribuição de energia elétrica. Este é um dos principais objetivos do XXIV Seminário Nacional de Distribuição de Energia Elétrica – Sendi 2023, que ocorrerá entre os dias 7 e 10 de novembro, em Vitória/ES. Completando seis décadas desde a sua primeira edição, realizada em 1962, o Sendi se tornou palco para as principais transformações ocorridas na área ao longo dos anos, se consolidando como o maior evento de distribuição de energia elétrica da América Latina.
Tendo a EDP como anfitriã, o evento reunirá diferentes stakeholders do mercado de energia, com expectativa de público da ordem de 3 mil pessoas. Com palestras simultâneas, onde serão debatidos temas relacionados às macrotendências de transformação do setor de energia como digitalização, descarbonização e descentralização, o evento contará ainda com o ExpoSendi, com estandes das principais empresas do segmento do país, mostrando todas as grandes inovações e os mais modernos produtos, serviços e equipamentos da cadeia de distribuição de energia elétrica.
Para nos contar as novidades desta edição e falar da relevância dos debates e palestras que ocorrerão no evento, a Revista O Setor Elétrico entrevistou o Gestor da EDP, Adilson Herzog, que deu vários spoolers do que os participantes do Sendi 2023 podem esperar desta edição. Leia a seguir a íntegra da entrevista:
OSE – Como o Sendi contribui para promover a inovação e o desenvolvimento do segmento de distribuição de energia elétrica, de acordo com os objetivos estabelecidos pelo evento?
Adilson Herzog – O Sendi busca apresentar as principais inovações do setor, com destaque para soluções sustentáveis e de alta qualidade, além de tendências de digitalização, descarbonização e descentralização, que são relevantes para o segmento, pois dizem respeito à transição energética.
Ao debater inovação em uma das mesas do evento, a intenção é discutir oportunidades de fontes e serviços alternativos que poderão ser oferecidos para proporcionar um salto de qualidade na experiência do cliente. Além disso, o objetivo é também apresentar tendências que inspirem mudanças no setor elétrico e atrair investimentos para pesquisa e desenvolvimento, a fim de impulsionar inovação e startups, em contexto de modernização setorial.
Para ampliar o debate na questão de inovação, além da programação com palestrantes renomados, as 21 startups selecionadas para o Sendi 2023 terão a oportunidade única de apresentar suas soluções inovadoras e disruptivas para o segmento.
A fim de contribuir para o desenvolvimento do segmento de distribuição, o Sendi atua em diversas outras frentes de debate, como a sustentabilidade. A adaptação climática, considerando a transição energética e a necessidade de descarbonização para uma gestão ambiental sustentável, é essencial e precisa ser colocada em prática cada vez mais. Por isso, palestrantes também terão como foco levantar ideias de como garantir financiamento para o setor diante do desafio do salto tecnológico necessário, com remuneração adequada do investidor e tarifas justas.
Outro ponto importante que será abordado no Sendi são diretrizes e regras para as novas concessões no segmento de distribuição. Para garantir previsibilidade aos investimentos, mostra-se imprescindível debater com a sociedade os principais aspectos jurídicos e normativos que cercam o tema.
A liberalização do mercado também é um fator determinante para o desenvolvimento do setor. Por isso, o Sendi busca discutir a abertura de mercado, que pressupõe uma série de condicionantes e regulamentações intermediárias para que a migração de consumidores seja feita de forma sustentável aos negócios, garantindo segurança jurídica e estabilidade regulatória.
OSE – Considerando a longa história do Sendi desde 1962, quais foram os principais marcos e evoluções que o evento testemunhou ao longo dos anos, e como essas mudanças refletem no cenário atual do setor de distribuição de energia elétrica? Houve algum tipo de “retrocesso”?
Adilson Herzog – A realização do primeiro Sendi em 1962 já completou seis décadas. E, desde então, o setor elétrico brasileiro passou por profundas alterações. As empresas que atuavam de forma verticalizada tiveram que separar as atividades desenvolvidas: geração, transmissão, distribuição e comercialização.
Com o processo de privatização, o setor, que era controlado por estatais, abriu-se para novas companhias e foi sendo modernizado, adaptando-se para enfrentar os desafios que chegaram, tornando-se hoje majoritariamente privado. Além do advento de novas tecnologias e novas práticas, a indústria de energia elétrica como um todo enfrenta a realidade da transição energética e a necessidade de adaptação. Esta mudança ajudou o setor a conquistar financiamentos robustos, capazes de atrair cada vez mais investidores para garantir o aprimoramento da qualidade do sistema elétrico nacional.
A reestruturação do setor com a criação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel); do Operador Nacional do Sistema (ONS); da Câmara de Contabilização de Energia Elétrica (CCEE); e da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) tem permitido um crescimento com mais eficiência e adaptado à realidade mais complexa do funcionamento do sistema elétrico. Se antes as distribuidoras tinham um único supridor de energia, hoje são centenas de fornecedores, o que exige, entre outras adaptações, uma complexa estrutura de contratação e contabilização.
No segmento de distribuição, além do processo de privatização que reduziu a presença das empresas estatais para apenas cinco concessionárias, tivemos também um processo de incorporação de concessões e transferência de controle para grupos investidores. As empresas que antes atuavam de forma isolada, agora trabalham de forma cooperada, com maior proximidade, compartilhando recursos de infraestrutura e governança.
O futuro ainda indica novas mudanças para o setor de distribuição: a introdução de novas tecnologias tem ocorrido de forma mais rápida nos últimos anos, com a chegada de medidores inteligentes que possibilitam uma melhor gerência do sistema. E o papel da distribuidora, que sempre foi de fornecimento de energia e serviços, deverá evoluir para um modelo onde a gestão da rede e prestação de novos serviços aos consumidores deverá ser preponderante, enquanto a atividade de comercialização regulada de energia terá menor relevância.
Além disso, a realidade urgente do desenvolvimento sustentável vem provocando transformações também em nosso setor, que tem no Brasil a capacidade de liderar a transição energética a partir de nossa matriz elétrica preponderantemente renovável e que ainda possui tantas possibilidades a serem exploradas. Por outro lado, a nossa invejável posição de abundância de recursos energéticos e fontes renováveis permite implementar um processo de transição energética sem subsídios, com alocação justa dos custos sistêmicos, foco no consumidor e na busca de tarifas equilibradas.
Durante esta edição do Sendi 2023 teremos a oportunidade de discutir questões relacionadas com os desafios vivenciados pelas distribuidoras nas suas atividades diárias, mas também as novidades que estão sendo pesquisadas pelas empresas para se prepararem para enfrentar os desafios do futuro.
OSE – De que forma a troca de experiências entre as empresas distribuidoras de energia no Sendi pode beneficiar o aprimoramento do modelo regulatório brasileiro?
Adilson Herzog – O Sendi oferece um ambiente propício para o intercâmbio de conhecimento e experiência entre as empresas distribuidoras de energia elétrica, fornecedores do setor, órgãos governamentais e associações e órgãos reguladores do setor. O debate sobre os desafios e oportunidades regulatórias pode levar ao desenvolvimento de políticas mais eficazes que incentivem a melhoria contínua no setor, além de trazer aprimoramento dos serviços de distribuição de energia elétrica e promoção da inovação e da sustentabilidade no setor elétrico brasileiro. Isso é crucial para garantir um fornecimento confiável e sustentável de eletricidade, alinhado com as demandas crescentes e as metas ambientais.
OSE – Como funcionará o espaço exclusivo para startups no Sendi 2023? Quais oportunidades esse espaço oferecerá para as empresas emergentes apresentarem suas soluções inovadoras aos principais players do segmento?
Adilson Herzog – O Espaço Inovação foi pensado para facilitar as conexões entre participantes do evento e startups, impulsionando o ecossistema de inovação. Será um espaço de trocas e inspiração, dando visibilidade aos desafios do setor e às 21 startups selecionadas, que estarão presentes.
As startups terão a oportunidade de apresentar suas soluções inovadoras e disruptivas para o segmento. Com suas apresentações, elas vão poder estabelecer novas parcerias, networking e ter acesso a investidores.
OSE – Quais foram os critérios utilizados durante a seleção dos trabalhos técnicos que serão apresentados no Sendi 2023? Como será feita a escolha do 1º colocado?
Adilson Herzog – O processo de avaliação selecionou 211 trabalhos técnicos na modalidade presencial e 34 na modalidade pôster. Todos os autores tiveram de atender aos critérios exigidos de ordenação das ideias, clareza, embasamento teórico, originalidade e aplicação prática. Para ser considerado original, o projeto devia resultar na criação e/ou no aprimoramento de equipamentos, processos, metodologias e técnicas.
Os trabalhos foram avaliados com base em uma fórmula de cálculo diante de todos os critérios acima descritos e, em eventual empate, serão avaliados os seguintes pontos: quantidade de trabalhos por empresa, com maior prioridade à empresa que tiver menos trabalhos aprovados; quantidade de trabalhos por autor, com maior prioridade ao autor que tiver menos trabalhos aprovados; e data de entrega mais antiga.
Além da energia em si, os cases trazem exemplos de inovação em áreas como atendimento digital, comunicação e relacionamento com os clientes, segurança do trabalho e recursos humanos, recuperação de crédito e até inadimplência.
Os três primeiros lugares vão receber o troféu Sendi 2023, mas o grande campeão também vai ganhar um notebook. Para a escolha dos vencedores será considerada a nota data no processo de avaliação dos trabalhos inscritos, a nota da plateia que assistiu à apresentação do trabalho e a nota do presidente da sessão.
OSE – Considerando os temas abordados e as inovações apresentadas durante o Sendi 2023, qual é a perspectiva de mercado para as tecnologias e práticas discutidas no evento, especialmente no que diz respeito à digitalização, descarbonização e descentralização do setor de energia elétrica? Espera-se implementações imediatas?
Adilson Herzog – O próprio termo “transição energética” demonstra que a implementação é um processo que varia de tempo de acordo com cada empresa e realidade. O Sendi apresenta vários exemplos que já funcionam na prática, iniciativas aparentemente simples que fazem grande diferença no resultado. A troca de experiências e o conhecimento de novas possibilidades contribuem para que a adaptação e mudança seja facilitada.
No entanto, podem acontecer apresentação de novas tecnologias e prática, ainda embrionárias, que podem ser escaladas de acordo com a necessidade e demanda das empresas.
OSE – Como as discussões e inovações apresentadas no Sendi 2023 estão alinhadas com os desafios e oportunidades específicos enfrentados pelo setor de energia elétrica no Brasil, especialmente em relação à matriz energética, sustentabilidade e segurança energética?
Adilson Herzog – O setor elétrico sempre investiu em inovação com o intuito de garantir uma melhora do serviço prestado. Nos últimos 10 anos (2013-2022), o setor investiu cerca de R$ 8,3 bilhões em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PDI). Apenas no segmento de distribuição, último elo da cadeia e responsável pelo atendimento direto aos consumidores, os investimentos somaram R$ 3,2 bilhões no período. Os temas de PDI no segmento de distribuição são diversos, mas há um ponto de destaque: as inovações que priorizem a operação com qualidade e segurança do sistema de energia, que representaram, ao longo dos últimos 10 anos, no mínimo, 37% da destinação dos recursos das empresas, garantindo sustentabilidade e segurança energética ao sistema elétrico.
O resultado está na melhora dos indicadores de qualidade dos serviços. Ao longo de 2022, o serviço de distribuição esteve disponível, em média, durante 99,88% do tempo. O indicador DEC (Duração Equivalente de Interrupção por Consumidor) atingiu a casa de 11,2 horas no último ano, mantendo-se dentro da meta pelo terceiro ano consecutivo. Já o indicador FEC (Frequência Equivalente de Interrupção por Consumidor) vem se reduzindo consistentemente ao longo dos anos, sempre performando abaixo do estabelecido pelo regulador.
OSE – Considerando que esta edição do Sendi deveria ter ocorrido em 2020, quais temas e inovações discutidos em 2023 não estariam presentes se o evento tivesse seguido conforme o planejado inicialmente? Quais foram as mudanças significativas nas discussões e tecnologias apresentadas que surgiram após o evento ser adiado?
Adilson Herzog – De 2020 a 2023, o segmento de energia tem debatido temas já conhecidos, mas nem sempre implantados, como a energia renovável e seu desenvolvimento de infraestrutura para integrar essas fontes intermitentes na rede elétrica, que segue como tendência importante.
Também há a tecnologia de redes inteligentes, com a implementação de tecnologias avançadas de comunicação e controle para melhorar a eficiência, a confiabilidade e a resiliência da distribuição de energia. Além disso, o interesse em microrredes cresceu, que podem funcionar de forma independente da rede principal em caso de interrupções.
O que constatamos em 2023 foi um aumento dos trabalhos dos temas Geração Distribuída e Redes Inteligentes. Um tema que provavelmente não estaria sendo debatido em 2020 iminente prorrogação das concessões das distribuidoras de energia privadas. Neste ano, vamos discutir diretrizes e regras para as novas concessões no segmento de distribuição. Como comentado acima, para garantir previsibilidade aos investimentos, mostra-se imprescindível debater com a sociedade os principais aspectos jurídicos e normativos que cercam o tema.
OSE – Pensando nos investimentos significativos e o impacto econômico para a região anfitriã e para as empresas envolvidas no evento?
Adilson Herzog – A realização do XXIV Seminário Nacional de Distribuição de Energia Elétrica – Sendi 2023 no Espírito Santo traz uma série de benefícios econômicos, entre eles a movimentação de mais de R$ 45 milhões no turismo capixaba. A vinda de diversos profissionais da área de energia elétrica de todos os estados brasileiros e outros países estimula o turismo local, com o consumo no comércio, em transportes por aplicativos, restaurantes e redes hoteleiras capixabas e salas de negociação. O Sendi também proporciona troca de experiências entre empresas distribuidoras de energia elétrica, promovendo geração de negócios e networking.