Setor elétrico: tendências e oportunidades globais

O setor empresarial, de uma maneira geral, estava em plena implantação dos seus planos de desenvolvimento, de racionalização de custos e de aumento de receitas para capitalização das suas organizações, quando teve esse processo totalmente prejudicado pelo adiamento e cancelamento de vários de seus projetos, em função do surgimento da pandemia do coronavírus.

No atual momento, não há ainda uma certeza de quando as atividades do setor produtivo retornarão ao normal, após a fase de controle da pandemia, que só acontecerá com a aplicação de vacinas, que está na fase inicial no Brasil.
A sociedade, por motivos forçados, se acostumou ao mundo virtual. Praticamente, todos os ramos de negócios tiveram que se adaptar “ao negócio virtual” para sobreviverem.

Propostas específicas para o setor empresarial

Essas transformações estão requerendo a adoção de medidas simples e efetivas para o setor empresarial, tais como as elencadas a seguir:

• Preparação adequada das equipes de trabalho para fazer face aos serviços necessários para operacionalização as atividades empresariais, por meio do desenvolvimento de programas de treinamento, de preferência via web, motivados pela virtualização dos negócios e das atividades;
• Implementação de sistemas de gestão empresarial para automação dessas atividades no mundo virtual;
• Implementação de planejamento estratégico aplicado a cada negócio, com o apoio de consultores especializados para desenvolvimento da parte estratégica, e da elaboração dos Planos de Ações, com a participação efetiva de dirigentes e colaboradores.

Contexto do setor elétrico

Até um passado recente, as empresas de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica eram praticamente todas estatais. Com o processo de privatização posto em prática no setor elétrico brasileiro no governo de Fernando Henrique Cardoso, este quadro alterou-se radicalmente. Hoje tem-se um quadro misto de empresas estatais e privadas e tende a se alterar com a perspectiva de privatização da Eletrobras e de suas subsidiarias.

Como o setor elétrico é intensivo em capital, esta privatização de grande porte requer a participação de grupos privados sólidos com a necessária capacidade econômico-financeira para fazer os investimentos requeridos para continuidade da expansão dessas empresas.

Esta privatização dará a oportunidade para entrada de novos “players” no setor elétrico o que irá propiciar novo potencial de recursos financeiros a serem aplicados na expansão do sistema elétrico brasileiro.

A expansão da geração e da transmissão de energia elétrica está perfeitamente equacionada e regulamentada através do Leilões de Energia Nova e dos Leilões de Transmissão, cujos resultados obtidos têm sido coroados de pleno êxito.
A distribuição de energia elétrica por áreas de concessão também está equacionada e regulamentada, com a expansão sendo realizada pelos próprios concessionários, através de agentes estatais e privados.

A regulação e fiscalização das atividades de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica estão sob responsabilidade da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel); o planejamento e a definição dos planos de expansão do setor elétrico são realizados pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e a coordenação e o controle da operação do Sistema Interligado Nacional são realizados pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) com a participação de todos os agentes envolvidos.

Tendências e oportunidades do setor elétrico

A presença de grandes grupos empresariais no setor elétrico brasileiro, sejam nacionais ou internacionais, é uma oportunidade para a diversificação e aumento do potencial de recursos para investimento na expansão do sistema elétrico visando ao atendimento pleno da demanda de energia elétrica, que é de fundamental importância para o desenvolvimento do País.

Infelizmente, tivemos também casos de insucesso, como é o caso da espanhola Abengoa e da Indiana Sterlite que deixaram um legado de obras de transmissão sem implantação. Este fato mostra que o processo de credenciamento de empresas para participação nos leilões de transmissão deve ter maior rigor, bem como um limite de empreendimentos para cada agente vencedor nesses leilões.

Uma tendência natural será a expansão das fontes renováveis eólica e solar, pelas condições extremamente favoráveis existentes no Brasil. O Brasil tem o maior fator de capacidade de geração eólica no mundo com 42%. Isto é uma consequência das características dos ventos nos seus sites principais que apresentam uma variabilidade regular, particularmente na região Nordeste, que isoladamente tem um fator de capacidade de 45%.

A geração eólica é hoje extremamente importante para o atendimento energético do Nordeste, de tal forma que atendeu 37%, 43% e 50% da demanda global de energia elétrica da região Nordeste em 2017, 2018 e 2019, respectivamente.

A Radiação Solar na região semiárida do Brasil atinge 6.250 Wh/m2.dia e está presente durante todo ano nesta região do Brasil. A geração solar está crescendo lentamente na região Nordeste do Brasil, de tal forma que atendeu 1%, 2% e 3% da demanda global de energia elétrica da região Nordeste em 2017, 2018 e 2019, respectivamente. Este crescimento deverá ser mais significativo com a expansão da geração solar distribuída instalada diretamente pelos consumidores finais.

É importante destacar a complementariedade existente entre a geração eólica e a geração solar na região nordeste, de tal forma que a geração eólica apresenta valores mais elevados no período da madrugada e noite e valores mais reduzidos de 12 às 18h, enquanto a geração solar só apresenta valores de geração durante o período de sol, de 6 às 18h. Dessa forma, há uma forte complementariedade no período de 7 às 18h entre essas gerações.

Deve ser dado destaque especial que o mercado de renováveis gerou mais de 500 mil postos de trabalho no mundo e o Brasil é o segundo maior empregador, atrás apenas da China. Conforme artigo publicado pelo Rodrigo Caetano, “o mercado de energias renováveis registrou, no ano passado, 11,5 milhões de empregos no mundo, segundo a Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA). O setor avançou em relação a 2018, quando foram registrados 11 milhões de postos de trabalho. A China concentra a maior parte dos empregos, sendo responsável por 1 em cada 4 vagas. O Brasil é o segundo país que mais gera empregos no segmento, com 1,158 milhão de trabalhadores empregados, à frente da Índia e Estados Unidos”.

Outro ponto muito importante a destacar, é que as fontes renováveis trazem desenvolvimento econômico local, com as seguintes vantagens: os parques eólicos e solares podem fornecer um fluxo financeiro estável para os investidores nestas centrais; idem para os proprietários locais que alugam os seus terrenos para a implantação das turbinas eólicas; aumento das receitas fiscais das propriedades para as comunidades locais, promovendo geração de emprego e renda, sobretudo nos países em desenvolvimento; definitivamente, as fontes renováveis trazem melhoria de vida para as comunidades locais.

Tendências e medidas globais

Em termos de tendências globais com impacto no consumo de energia elétrica e com desdobramentos em cadeia para os demais processos, é importante destacar os pontos abaixo descritos.

As mudanças demográficas apresentam forte tendência a uma crescente urbanização, com a formação de grandes metrópoles e o crescimento da população, pois hoje há 7 bilhões e em 2050 haverá 9 bilhões de pessoas no mundo.
A Globalização é um caminho sem volta e quem não entrar neste ritmo está condenado ao subdesenvolvimento, pois é lá que estão as oportunidades de negócio. A Globalização apresenta uma tremenda interconexão de mercados e serviços, conectados permanentemente através dos mais diversos meios.

Há novos mercados emergentes, destacando-se que nos BRICS e na Ásia milhões de pessoas têm emergido para a classe média de consumidores; na África e América do Sul milhões de pessoas têm acessado a classe baixa de consumidores.

No segmento de bens e serviços há uma realidade, e não mais uma tendência, marcada pela redução da vida útil dos produtos, a busca extrema por novos produtos e o surgimento de novos modelos de negócios e serviços.

Há uma tendência marcante pela evolução tecnológica e a inovação com maior disponibilidade de recursos e meios para exploração de novas fontes de energia, idem para instalações e equipamentos com novas funcionalidades e cada vez mais eficientes, ganhos de produtividade, viabilizando “fazer mais com menos insumos”. A tecnologia e a inovação contribuem para o aumento da produtividade e para preservar o meio ambiente, tornando a preservação ambiental uma aliada da produtividade.

Por último, não poderíamos deixar de destacar as comprovadas mudanças climáticas, tornando o aquecimento global uma crescente e comprovada realidade, cujas consequências já são evidentes para toda humanidade, o que requer de todos nós a implementação de medidas globais e efetivas para reduzir a emissão de CO2.

As consequências diretas dessas tendências globais são uma maior produção de alimentos, bens de consumo e outros bens, e maior consumo de energia e água. Isto inexoravelmente implica em maior exploração dos recursos naturais e, como consequência final, maiores impactos diretos sobre o meio ambiente e em escassez de água.

Essas consequências requerem a necessidade imperiosa de adoção de medidas globais e efetivas para reduzir os impactos sobre o meio ambiente, tais como: redução do desperdício de materiais, alimentos, energia e água, reciclagem de materiais e de água e a busca frenética pela eficiência energética global.

Esta é a realidade! Como diz George Santayana: “a realidade é como ela é e não como gostaríamos que ela fosse”, complementado por Lao Tsé: “diante da realidade cabe ajustar os nossos objetivos maiores seguindo o caminho do rio que contorna a montanha para chegar ao mar”. E este ajuste terá de ser feito inexoravelmente com tecnologia e inovação a serviço da eficiência e do meio ambiente. Definitivamente, é preciso aceitar a realidade e mudar para sobreviver.

*Saulo José Nascimento Cisneiros é diretor-presidente do Cigré Brasil

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