Quando se fala de ‘Gestão de Ativos’, muitos pensam tratar-se apenas da questão física dos equipamentos e, desse modo, que seria restrito à questão da operação e da manutenção. Ou seja, muitos dizem que isso é uma questão somente da operação. No entanto, a gestão de ativos é um processo iminentemente transversal, que engloba não somente a questão da operação e da manutenção, mas se inicia na fase de planejamento, passando pela aquisição, pela implantação, pelo processo de unitização do ativo, o armazenamento, a operação e a manutenção e, finalmente, o descarte.
Temos então diversas fases envolvidas: planejamento, aquisição (suprimento), implantação, unitização (contábil), armazenamento, operação e manutenção e descomissionamento. Além dessas fases, é fundamental dar a devida atenção ao processo regulatório vigente no país. As empresas necessitam cumprir os normativos definidos pelo processo regulatório de modo a evitar perda de receitas, bem como a aplicação de penalidades pelo agente regulador.
A adequação da estrutura organizacional da empresa facilita a implantação de um sistema de gestão de ativos estratégica e eficiente proporcionando muitas vantagens para as empresas: visão estratégica do negócio, mudança de cultura, melhoria no desempenho técnico e financeiro e melhoria na competitividade.
Importante ressaltar algumas situações encontradas quando se deseja adequar a estrutura para a implantação do sistema de gestão de ativos na empresa. Dentre elas podemos citar: ausência de uma governança de dados estruturada, ausência de um sistema de gestão de riscos, controle das informações muitas vezes dispersas e não sistematizadas, sistemas computacionais não integrados e com protocolos diferentes e falta de conhecimento do sistema de gerenciamento de ativos.
Apresenta-se a seguir uma abordagem, por meio da Matriz Swot, ferramenta muito usada para compreender a realidade das empresas, podendo ser utilizada como instrumento inicial para estabelecer um planejamento estratégico, identificando seus pontos fortes e fracos, além das oportunidades e ameaças que impactam o modelo de negócio adotado pela organização. Consideremos, como exemplo, uma empresa de transmissão de energia elétrica com uma estrutura tradicional, ou seja, na qual o processo de gestão de ativos não é realizado de forma transversal. Nesse tipo de empresa, normalmente existem muitas dificuldades de modo a ser ter uma interação entre as diversas áreas da empresa que permita fazer uma gestão de ativos efetiva. Isso pode resultar em perdas podendo comprometer o equilíbrio econômico-financeiro.
A tabela a seguir apresenta o resultado da Matriz Swot construída para uma estrutura de uma empresa de transmissão tradicional:
Pela análise da Matriz Swot, depreende-se a necessidade urgente de capacitação de pessoas no entendimento dos conceitos e importância da GA, o fortalecimento da interação das áreas envolvidas no processo de gestão de ativos que inclui planejamento, aquisição operação, contábil, regulatório etc. É importante que durante o processo de implementação de um sistema de gestão de ativos sejam observados os normativos regulatórios vigentes no país. A implantação de um sistema de gestão adequado, informatizado é vital, de modo a facilitar o trabalho das pessoas envolvidas no processo de revisão tarifária.
Após a revisão tarifária da transmissão ocorrida no ano de 2018, muitas empresas do setor elétrico brasileiro têm trabalho fortemente no sentido de adequar as suas estruturas e os seus processos através de investi na capacitação de seu corpo de funcionários e da infraestrutura necessária de modo tornar a gestão de ativos mais eficiente e, com isso, minimizar as perdas financeiras.
Fazer ‘Gestão de Ativos’ sem o envolvimento de todos é fadado ao insucesso. É preciso repensar a estrutura organizacional de forma integrada, sem o viés de que nesta área “quem manda sou eu” e “tem que implementar GA porque é uma orientação da alta administração”. O alinhamento com as diretrizes empresariais é essencial e o resultado é uma vitória de todos que fazem acontecer dentro da empresa.
Autor:
Por Antonio Simões Pires, engenheiro eletrotécnico pela Universidade Federal do Pará (UFPA), tem mestrado em Sistemas de Potência pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e, atualmente é diretor financeiro do Cigre-Brasil, além de consultor da área de Operação e Manutenção de Sistemas Elétricos.