Edição 105 – Outubro de 2014
Por Juliana Iwashita
Em outubro tive a oportunidade de ministrar um treinamento para profissionais de iluminação em dois países na América Latina: Colômbia e Argentina. Participaram destes treinamentos 40 experientes profissionais de iluminação dos países locais além de pessoas da Venezuela, Peru, Chile e México.
Esta experiência foi bastante enriquecedora pelo fato de se poder verificar como a iluminação a Led está sendo difundida nos países de forma bastante semelhante ao Brasil, respeitando-se suas diferenças normativas locais.
A penetração da tecnologia led, seja na iluminação de interiores, como na pública, é realidade em todos os países. E é a mesma corrida entre fornecedores para conseguir trocar a iluminação convencional pela iluminação de estado sólido nos principais pontos das cidades podem ser notados.
Na prática, uma visita rápida em pontos das cidades visitadas é possível identificar iluminação Led em parte das ruas, lojas, escritórios e hotéis, como é o caso de Buenos Aires que já tem as principais avenidas da capital com iluminação Led com telegestão, parte da iluminação de hotéis de alto padrão com lâmpadas Led e lojas de shoppings com muita fita e lâmpadas Led.
Algumas aplicações, entretanto, possuem resultados questionáveis, principalmente quando se avalia a qualidade final da iluminação: baixa reprodução de cor em lojas, temperatura de cor fria em ambientes que deveriam ser aconchegantes, o que denota ainda certo desconhecimento quanto à aplicação e/ou qualidade da tecnologia.
Interessante notar como a tecnologia Led reintroduziu questionamentos qualitativos sobre conceitos estabelecidos de iluminação e tornou a engenharia da luminotécnica, algo de certa forma novo para quem trabalha há muito tempo com iluminação. Conceitos, como índice de reprodução e distinção do R9 para avaliação da cor, binning, consistência cromática, elipses de MacAdam, espectro visível, visão mesópica, luminância e UGR, são conceitos cada vez mais discutidos atualmente, os quais, antes do Led, mal eram conhecidos ou questionados.
Decorre daí a importância da atualização de conceitos, seja para facilitar uma venda técnica, seja para projetar e especificar de forma correta um produto. O Led introduz eficiência energética e vidas prolongadas que permitem redução de custos com operação e manutenção, porém, a qualidade do produto precisa ser verificada e atestada. Neste aspecto, o Brasil está à frente dos demais países da América Latina por acabar de introduzir no mercado brasileiro os Requisitos Técnicos de Qualidade para testes de lâmpadas Led e regras para se obter o Selo Procel de economia de energia, etiquetagem voluntária que tem o objetivo de distinguir os melhores produtos do mercado. Embora saibamos que o processo ainda tem uma longa trajetória pela frente, estes mecanismos serão fundamentais para elevar a qualidade técnica dos produtos e a qualidade da iluminação de estado sólido no Brasil.
Tendências como projetos com certificação LEED também são observados no demais países da América Latina, enfatizando a eficiência energética dos produtos e abrindo campo para uso de sistemas Led e sistemas de controle de iluminação. O Brasil, por ser o segundo país com mais projetos registrados no mundo, acaba também sendo uma referência para os demais países da América Latina. A introdução da nova versão V4 de forma compulsória a partir de 2015 torna também a iluminação um aspecto cada vez mais complicado do ponto de vista de projeto e custoso para o construtor. As tecnologias, entretanto, vêm ganhando espaço em função da queda de preços e se tornam alternativas cada vez mais necessárias para obtenção de certificações ambientais.
Por outro lado, o que se percebe de diferente entre os países é a adoção de normas distintas referentes a iluminação. Não há um consenso normativo e cada país acaba seguindo referências locais. Normas, como o RETILAP na Colômbia ou o IRAM na Argentina, mostram-se bastante exigentes quanto à certificação de produtos, o que minimiza produtos de baixa qualidade. Quanto a projetos de iluminação, observa-se a influência de recomendações da CIE e da IESNA, assim como no Brasil. Os níveis de iluminância recomendados, entretanto, podem variar conforme o país e também a forma como são requeridos. Uns estabelecem os níveis mínimos, como é o caso do México, outros estabelecem níveis mínimos, médios e máximos, como a Colômbia.
Observando as diferenças das exigências locais, nota-se que os países da América Latina estão bastante alinhados quanto às mudanças de tecnologias e tendências de iluminação. O comportamento do consumidor e do especificador também parece ser bastante parecido com o do brasileiro. Isto enfatiza a tendência crescente de alteração de tecnologias na América Latina nos próximos anos como vem ocorrendo no Brasil.