O setor elétrico brasileiro ainda é carente de discussões sobre perdas em qualidade de energia elétrica. Esta é a percepção do novo presidente da Sociedade Brasileira de Qualidade de Energia Elétrica (SBQEE), José Starosta, que assume a gestão pelos próximos dois anos. Segundo ele, as empresas possuem processos produtivos fortemente dependentes da qualidade da energia elétrica. “Quanto mais automatizadas, maior essa dependência. Aquelas que conseguiram quantificar suas perdas investem maciçamente em suas infraestruturas para se tornarem menos vulneráveis aos fenômenos e aumentarem suas produtividades”, afirma.
Esta foi uma das inúmeras discussões que estiveram presentes durante a XIV Conferência Brasileira de Qualidade da Energia Elétrica (CBQEE), realizada entre os dias 20 de agosto e 1º de setembro, de forma virtual. Organizada pela SBQEE, a conferência reuniu mais de 300 pessoas inscritas de diversos setores da economia, como academia, indústria, governo e concessionárias de energia. “A programação da XIV CBQEE apresentou amplas oportunidades de aprendizagem e reflexão crítica sobre diversos temas de relevância técnica, econômica, regulatória, social e ambiental ao nosso país”, avaliou o presidente da SBQEE em exercício durante o evento, o professor Benedito Donizeti Bonatto.
A CBQEE democratizou as discussões de amplo interesse em 4 sessões plenárias, 2 palestras técnicas de patrocinadores e 24 sessões técnicas com a apresentação de 170 artigos técnico-científicos, desenvolvidos por 503 autores, avaliados e aprovados por revisores qualificados, e abrangendo 20 áreas temáticas que impactam a qualidade da energia elétrica, como regulação, transição energética, compensação reativa, conexões de renováveis e estudos de casos nas mais variadas situações. Destaque para o minicurso sobre distorções harmônicas, que antecedeu a abertura do evento, ministrado pelo professor José Rubens Macedo Jr., especialista em qualidade de energia.
O evento contou com um ambiente virtual que simula um congresso real, com centro de convenções, auditório, salas menores para as sessões técnicas, hall de expositores, lounge para interações e estandes virtuais para networking e apresentação de soluções.
A nova diretoria da Sociedade, capitaneada por José Starosta, tem pela frente alguns desafios, como definir onde será a próxima edição do evento, em 2023, formatar eventos e encontros para os próximos dois anos e conquistar associados para tornar a Sociedade ainda mais forte. As cidades de São Luís (MA), Vitória (ES) e Foz do Iguaçu (PR) disputam a sede da próxima edição da CBQEE. Confira mais sobre a qualidade de energia do setor clicando aqui.
Desafios da qualidade de energia
A qualidade da energia elétrica é fundamental para a perfeita operação dos sistemas elétricos. “A percepção do fenômeno vai desde ficar preso em um elevador, ou não ter seu cartão de credito aceito em pontos de venda, ou um exame de imagem incompleto em um hospital”, exemplifica Starosta. Segundo ele, as perdas por conta da qualidade da energia podem chegar a valores superiores a 10 bilhões de dólares.
Pensando nisso, são muitos os desafios para o país, como superar perda de produção dos consumidores de energia (indústrias, hospitais, prédios comerciais), reduzir as perdas elétricas dos processos de geração, transmissão e distribuição (GTD), promovendo mais eficiência energética. “As soluções passam por educação nas universidades formando pessoal que entrará no mercado pronto para os desafios e pelo entendimento de que a energia é um insumo do processo e como tal deve medir a qualidade e não só o consumo para então definir a estratégia junto a bons profissionais de mercado amparados por distribuidoras atentas, laboratórios e centros de pesquisa que produzam conhecimento aplicado”, avalia José Starosta.
Bonatto acrescenta que o mundo está vivendo uma transformação científica, tecnológica, ambiental, política, econômica e social, com impactos em todas as áreas do conhecimento humano. “A interdependência entre os sistemas requer abordagens mais holísticas, integradoras de diferentes agentes do mercado, da academia, da indústria e do governo na busca de soluções otimizadas. Na interface entre os agentes do novo mercado elétrico, novos desafios tecnológicos (grid edge technologies) requerem soluções inovadoras e sustentáveis e envolvimento de todos os agentes, incluindo os prosumidores, consumidores, investidores e reguladores”, comenta.
Para Bonatto, a integração de fontes de energia renováveis no sistema elétrico, em diversos níveis e capacidades, tem impactos relevantes que não podem ser negligenciados. “Como a natureza das fontes primárias são intermitentes, por filosofia, deveriam ser conectadas conjuntamente a sistemas de armazenamento, proporcionando adequada regulação, sem transferir ônus e privatizar bônus, já que a questão da qualidade da energia elétrica deve ter sempre uma visão condominial. Políticas públicas e privadas segundo esta filosofia trariam resultados sustentáveis à economia do país”, conclui.
Os anais da XIV CBQEE podem ser acessados neste link: https://proceedings.science/cbqee-2021