Considerando que estamos em março, gostaria de aproveitar este espaço para uma comemoração ao Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março. E começo este artigo com uma afirmação categórica: estamos vivendo uma época muito especial no que se refere às discussões sobre a inserção das mulheres no setor elétrico. Quando comecei nessa indústria, há cerca de vinte anos, não havia movimentação neste sentido e a data era lembrada apenas com as tradicionais flores, alguns chocolates e nada mais. Hoje o cenário é outro porque o assunto é tema constante, não apenas em uma data específica. E isso, em si, já é uma grande vitória. O caminho a percorrer, no entanto, ainda é longo.
Se há vinte anos, as mulheres eram poucas no setor, o que vejo hoje é uma geração de mulheres fortes, determinadas e apaixonadas pela profissão. São diretoras, conselheiras, gerentes, executivas, assistentes e operárias de todos os pontos da cadeia produtiva que vão, aos poucos, ocupando seu espaço. As notícias de iniciativas das empresas para ampliar o acesso das mulheres ao mercado de energia chegam de variadas fontes e mostram que há um esforço real para o que o cenário mude. Sabemos que ainda estamos distantes de um cenário verdadeiramente diverso e equilibrado em termos de gênero, mas há que se comemorar o momento tão interessante que estamos vivendo, com os profissionais efetivamente engajados em discutir o tema de forma profunda, avaliar as barreiras e colocar a mão na massa para aumentar a diversidade no setor de energia.
Entre tantos rumos que a discussão sobre inclusão de gênero pode tomar, há um ponto que gostaria de destacar e que muitas das empresas já se preocupam com ele: o fato de que resolver este problema passa por se preocupar não apenas com as mulheres já adultas, mas também com o fato de que isso começa lá na infância, na formação mais inicial das crianças e essa não é apenas uma discussão do setor elétrico.
Já na escolha de carreira, muitas mulheres deixam o setor elétrico de fora das possibilidades. E acredito que esse é o resultado de muitos problemas que não são específicos do setor de energia. Então, precisamos começar essa discussão olhando para o quadro geral. Vou dar um exemplo: em geral, nossa sociedade tende a encorajar os meninos a carreiras mais ligadas a engenharia, matemática, lógica e isso acontece desde cedo. E você pode ver isso acontecendo facilmente apenas indo a uma loja de brinquedos: do lado das meninas, bonecas e brinquedos mais ligados ao universo emocional e, do lado dos meninos, uma grande variedade de brinquedos mais desafiadores e criativos, mais conectados ao universo da lógica. Então, uma menina cresce e vai pensar “bem, energia não é minha coisa, engenharia é muito difícil” e ela acredita nisso porque parece um mundo distante do dela. É claro que isso não é uma regra, mas precisamos admitir que esses primeiros anos de infância são muito importantes para construir o entendimento que os meninos e meninas têm sobre suas potencialidades. Eu também acredito que esta questão também tem a ver com a expectativa que a sociedade coloca sobre as mulheres, os estereótipos associados ao feminino e as dificuldades que as mulheres geralmente enfrentam em todas as indústrias. Por isso, acho crucial que as empresas também pensem em iniciativas para estimular as meninas a seguirem as chamadas carreiras STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematics – Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática).
O que anima diariamente é que vejo uma onda muito positiva de muitas mulheres em todo o mundo lutando pela igualdade de gênero e isso me deixa muito esperançosa em relação ao futuro, porque podemos ver as coisas mudando diante de nossos olhos. Usando o exemplo que eu dei sobre meninos e meninas em idade precoce, por exemplo, é possível ver iniciativas de algumas empresas de brinquedos criando brinquedos para meninas que estimulam um pensamento mais matemático, espacial e estratégico. E também vejo famílias e escolas mais conscientes disso, especialmente porque o avanço tecnológico nos pede para preparar as crianças para esse futuro. Eu vejo um intenso movimento feminino questionando os estereótipos femininos em todo o mundo e este é um caminho muito interessante para promover a mudança porque, ao mudar os estereótipos, você libera muito mais possibilidades de existência para as mulheres, e isso pode resultar em diferentes escolhas de carreira. ver mais e mais mulheres no setor de energia.
Espero com ansiedade o momento em que esta questão dos desafios femininos no mercado de trabalho não venha mais fazer sentido, mas sei que ainda há grandes desafios para as mulheres no mundo corporativo e que o caminho é longo. O que posso dizer, pela minha experiência, é que, sim, é possível abrir caminhos novos, mudar paradigmas e construir um futuro mais equilibrado neste sentido. E o fato é que as mulheres que vão abrindo caminho na frente inspiram as que se seguem. Há uma energia muito forte que circula entre seres humanos dispostos e determinados a melhorar o mundo, a fazer as coisas diferentes e lutar por uma vida de mais diversidade e igualdade de oportunidades para todos. E é dessa energia que precisamos nos alimentar neste momento tão especial das discussões sobre diversidade no setor elétrico.